Wednesday, May 23, 2007

Britânicos acusam russo de envenenar ex-agente da KGB


Alan Cowell e Steven Lee Myers*
Em Londres

As autoridades britânicas acusaram na terça-feira um empresário russo, Andrei K. Lugovoi, de assassinar Alexander V. Litvinenko, o ex-agente da KGB e adversário do Kremlin que foi envenenado há seis meses em Londres com um isótopo radioativo, o Polônio 210.

A morte de Litvinenko foi um dos casos mais emocionantes desde a Guerra Fria, com a polícia seguindo o rastro da contaminação nuclear de Londres a Moscou. Lugovoi é o primeiro a ser formalmente acusado no caso. A natureza precisa da evidência contra ele não foi divulgada na terça-feira, apesar dos investigadores terem ligado ele e um associado, Dmitri V. Kovtun, a vestígios nucleares encontrados em hotéis de luxo e escritórios de Londres a Hamburgo, Alemanha, assim como em aviões da British Airways com destino a Moscou. Ambos negaram ter matado Litvinenko.

O Serviço de Promotoria da Coroa do Reino Unido disse que buscará a extradição de Lugovoi, um ex-guarda-costas da KGB que é dono de uma empresa de segurança e outros negócios, de Moscou. Mas o procurador-geral da Rússia descartou a extradição, sugerindo que o Reino Unido lhe entregue os documentos para um julgamento na Rússia. O gabinete do procurador-geral russo também está investigando a morte de Litvinenko.

Lugovoi, que proclamou sua inocência na terça-feira, conhecia Litvinenko há muitos anos. Ambos trabalharam em Moscou nos anos 90 para Boris A. Berezovsky, o magnata russo auto-exilado que vive em Londres e que já esteve entre os homens mais ricos e poderosos da Rússia.

Litvinenko, 43 anos, morreu em 23 de novembro de 2006, após semanas de um mal debilitante. Ele adoeceu em 1º de novembro, o dia em que se encontrou com Lugovoi e Kovtun no Pine Bar do Millennium Hotel, em frente à embaixada americana na Grosvenor Square, em Londres. No encontro, Litvinenko bebeu chá, ao qual seus associados disseram ter sido adicionada uma pequena dose de polônio.

A acusação de assassinato não menciona Kovtun ou um motivo possível. Em seu leito de morte, Litvinenko acusou o presidente Vladimir V. Putin de ser o responsável pelo seu envenenamento - uma acusação que o Kremlin considerou ridícula.A acusação britânica provavelmente tornará ainda mais tensas as relações entre o Reino Unido e a Rússia, já desgastadas pela recusa britânica em extraditar Berezovsky, que foi o principal empregador de Litvinenko até meados de 2006. Berezovsky não quis comentar na terça-feira.

Sir Ken Macdonald, o diretor de processos do Reino Unido e líder do Serviço de Promotoria da Coroa, um órgão oficial que avalia as evidências policiais antes da denúncia, disse que o serviço "considerou cuidadosamente" o inquérito policial que lhe foi apresentado no final de janeiro, após dois meses de investigações lideradas por Peter Clarke, o chefe da polícia antiterrorismo do Reino Unido.

"Hoje eu concluí que as evidências que nos foram apresentadas pela polícia são suficientes para indiciar Andrei Lugovoi pelo assassinato de Alexander Litvinenko por envenenamento deliberado", disse Macdonald em uma declaração. "Eu concluí que a denúncia deste caso certamente será do interesse público.

"Ele chamou a morte de Litvinenko de "crime extraordinariamente grave". Alguns dos associados de Litvinenko expressaram surpresa por apenas uma pessoa ter sido acusada."Eu estou quase em um estado de descrença por apenas Lugovoi ter sido acusado, e não um grupo de pelo menos três pessoas", disse Yuri Felshtinsky, um associado de Berezovsky e autor com Litvinenko de um livro de 2002, "Blowing Up Russia".

"Apenas o serviço secreto russo poderia ter executado este golpe com material nuclear em solo britânico", ele disse em comentários distribuídos por sua editora. "A mão daqueles ao redor de Vladimir Putin estava claramente visível no assassinato.

"Outros estudos recentes especularam que Litvinenko foi morto por ex-associados vingativos do serviço secreto, por sua possível traição de seus camaradas nos anos 90, quando buscou expor uma suposta corrupção na FSB, a sucessora doméstica da KGB.

Litvinenko se lançou como um denunciador e um cruzado anti-Putin.

Lugovoi não respondeu aos pedidos de comentário na terça-feira. Seu advogado, Andrei M. Romashov, disse que Lugovoi não foi notificado de quaisquer acusações.

Posteriormente, em comentários divulgados pelas agências de notícias russas, ele negou qualquer papel na morte de Litvinenko. "Eu acredito que é uma decisão política", ele disse, segundo a oficial Agência de Informação Russa. Ele expressou "desconfiança das evidências reunidas" pelas investigações britânicas e sugeriu que em breve fará declarações que causarão "sensação entre a opinião pública britânica".

*Reportagem de Alan Cowell, em Londres, e Steven Lee Myers, em Moscou Tradução: George El Khouri Andolfato

(UOL, Mídia Global, http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2007/05/23/ult574u7470.jhtm, 23/05/2007)