Wednesday, May 23, 2007

Rússia se Recusa a Extraditar Acusado de Assassinar Litvinenko


Por Andy McSmith

Autoridades em Moscou disseram ontem que não vão entregar o homem acusado de assassinar o ex-agente da KGB, Alexander Litvinenko, em Londres, em novembro passado, uma posição que esfria ainda mais as relações entre Londres e a Rússia.
Andrei Lugovoy, que se encontrou com Litvinenko no dia em que ele foi envenenado com a substância radioativa Polônio-210, negou o assassinato, alegando que as acusações são motivadas politicamente. "Eu não matei Litvinenko, não tenho relação alguma com a sua morte e a única coisa que eu posso expressar é a desconfiança baseada nas, assim chamadas, 'provas' coletadas pelos oficiais da justiça Britânica", disse ele ontem.
Mas Ken McDonald, o Procurador do Ministério Público britânico, anunciou que a Polícia Metropolitana tinha evidências suficientes para acusar Lugovoy por "envenenamento premeditado". O seu pronunciamento foi apoiado por Lorde Peter Goldsmith, Procurador-Geral britânico, que confirmou que o governo do Reino Unido vai pedir imediatamente a extradição de Lugovoy. Yuri Fedotov, embaixador russo no Reino Unido, foi chamado ao Ministério das Relações Exteriores pela ministra de Exteriores britânica, Margaret Beckett, a qual afirmou que a Inglaterra espera da Rússia "plena cooperação". Mas a Procuradoria Geral da Rússia disse que qualquer russo acusado pelo assassinato de Litvinenko deve ser julgado na Rússia. "Cidadãos russos não podem ser entregues a países estrangeiros", disse Marina Gridneva, porta-voz da procuradoria-geral. "Um cidadão que cometeu um crime em território exterior pode ser culpado pelas acusações, mas só em território russo".
As relações entre a Rússia e o Reino Unido têm esfriado desde que a Inglaterra se recusou a extraditar Boris Berezovsky, magnata russo, e Akhmed Zakayev, líder checheno, os quais vivem em asilo político no Reino Unido, depois de cairem em desgraça no governo do Presidente Vladimir Putin.
Os juízes britânicos determinaram que não seria possível qualquer destes homens receber um julgamento justo na Rússia.
Dissidentes russos na Inglaterra alegaram que o Kremlin está protegendo os assassinos de Litvinenko porque, tanto a FSB (antiga KGB), serviço secreto russo, como até o próprio Presidente, possivelmente estariam envolvidos.
Litvinenko morreu aos 46 anos, foi agente da KGB e de sua sucessora a FSB. Ele rompeu com a organização em 1998, quando Putin era o chefe da FSB. O ex-agente acusou os antigos funcionários de conspirar para o assassinato de Berezovsky, que estava usando sua fortuna para financiar grupos civis de direita na Rússia. Litvinenko, uma vez fugindo para o estrangeiro, conseguiu cidadania britânica e acusou a FSB de estar envolvida com atrocidades terroristas até então atribuídas aos separatistas chechenos, para justificar a guerra que Putin estava empreendendo na Chechênia. Na época de sua morte, Litvinenko estava investigando o assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, outra proeminente crítica do tratamento da Rússia com os chechenos.
Ele ficou doente no dia 1º de novembro, depois de ter se encontrado com Lugovoy e outros dois russos para tomar um chá no Hotel Millennium, no centro de Londres. Três semanas mais tarde, Litvinenko faleceu de uma morte longa e dolorosa, numa unidade de tratamento intensivo em Londres. Seu cabelo caiu, a sua pele ficou amarela e seus órgãos desvaneceram ao passo que o envenenamento pelo isótopo foi fazendo efeito. Ele deixou uma mensagem acusando o Presidente Putin de ser o mandante do seu assassinato. Porta-vozes do governo russo desmentiram a acusação, alegando que Litvinenko não era uma figura importante.
A maneira como ele morreu incitou centenas de pessoas a ligar para as linhas do serviço de emergência britânico, temendo estar com os sintomas do envenenamento por Polônio-210. A Polícia descobriu também traços de Plutônio, o que fez com que eles suspeitassem que a substância havia sido contrabandeada no Reino Unido por Lugovoy ou por Dmitri Kovtun, outro empresário russo, que também se encontrou com Litvinenko no Hotel Millennium.
Vestígios da substância foram encontrados no Hotel Millenium; em outros dois hotéis de Londres onde Lugovoy ficou; em três aviões que voaram entre Londres e Moscou; e até mesmo no Emirates Stadium, no norte de Londres, onde Lugovoy foi assistir a uma partida de futebol entre o Arsenal e o CSKA Moscow.
Detetives da Scotland Yard viajaram até Moscou para conversar com Lugovoy e com Kovtun. Ambos alegaram ser potenciais vítimas de envenenamento mais do que agentes envenenadores.
Marina, a viúva de Litvinenko, elogiou ontem os detetives da Scotland Yard que investigam o caso. Ela acrescentou: "É importante para mim que meu marido não tenha morrido em vão e que os responsáveis pelo seu assassinato sejam levados à justiça no Reino Unido. Eu quero que meu filho saiba que a morte do meu marido não foi por nada".
Ela também revelou que o embaixador russo tinha pedido para vê-la e reconhecido que o acontecimento estava prejudicando interesses da Rússia. "Eu sugeri ao embaixador que a melhor maneira de restaurar a reputação da Rússia era cooperar plenamente com o pedido de extradição", disse ela à BBC.
Akhmed Zakayev , líder checheno exilado, disse: "Alexander Litvinenko e eu éramos amigos íntimos e vizinhos. Seu assassinato brutal foi uma tragédia terrível. Espero que a publicação de hoje faça com que o assassino de Sasha seja trazido a justiça".