Sunday, May 20, 2007

A Completa Transformação de Mascherano


Após apenas 10 jogos, o Argentino se tornou o meio-campo titular do Benitez - e isto é demais para se acreditar, disse ele a Marcos Christenson
The Observer
No dia 3 de dezembro do ano passado, Javier Mascherano jogou pela última vez com a camisa do West Ham. Alan Pardew deu-lhe seis minutos quando o Everton ganhou de 2-0. O argentino Carlos Tevez, companheiro de equipe e amigo de Mascherano, jogou toda a partida e resumiu assim a atitude do West Ham com relação ao parceiro: Tevez pode ser um jogador muito útil quando ele vai para cima, mas o que nós vamos fazer com um pequeno rapaz que corre de um lado para o outro como um louco no meio de campo?
Na quarta-feira contra o Milan, Mascherano será capaz de mostrar ao mundo por que ele merece jogar, assim como fez para a Argentina na Copa do Mundo, e quando o Liverpool eliminou o Chelsea na semi-final da Liga dos Campeões. Salvo estranho engano, ele foi um gigante naquela noite em Anfield. Perto do fim do jogo, ele enfiou uma bola num chute de 50 jardas depois de dar a vantagem num tiro-livre no campo do Chelsea para tomar sua posição apenas fora da área do Liverpool antes do final tempo regulamentar do jogo. A torcida do time de casa estourou num espontâneo aplauso, e seu desempenho confirmou por que ele passou por cima de Momo Sissoko e Xabi Alonso tornando-se o jogador favorito do técnico Rafael Benitez, ficando com a posição mais importante: meio-campo.
Foi uma transformação e Mascherano atribuiu isto à confiança que Benitez depositou nele. 'Eu não tenho palavras suficientes para agradecer o Rafa', disse. Quando eu realmente precisei de alguém, ele não me deu apenas uma mão, ele me deu um braço. Ele me disse que confiava em mim; isso é fundamental: encontrar alguém na Inglaterra que confie em mim. Eu estava num momento ruim (no West Ham). Estava me sentindo marginalizado, como um ex-jogador.
'O que era mais difícil para encarar era a indiferença. Você se sente péssimo se as pessoas não se preocupam se você está tentando fazer um bom trabalho, se está treinando duro. Por um lado, eu me sentia como se estivesse me empenhando de corpo e alma, mas eu fiquei bastante tempo e isso tinha muito a fazer por minha família, minha esposa e minha filha'.
Nascido em São Lorenzo, num pequeno povoado em Santa Fé, Mascherano foi descoberto por Hugo Tocalli, técnico da seleção argentina sub-20, enquanto jogava para Renato Cesarini. Ele foi chamado para o U15 e ganhou um lugar no River Plate. Mas ele nunca foi morar em Buenos Aires. 'A idéia é que eu volte (a São Lorenzo) quando deixar o futebol. Eu sei que os dias que "perdi", eu vou conseguir de volta quando retornar. Eu não estava acostumado à vida em Buenos Aires. Eu me diverti, mas eu tenho realmente meus bons momentos quando estou em casa. A minha família estará sempre lá. Meu irmão tem uma pizzaria. Eu como pizza e o ajudo a prepará-las, fazendo a massa, todas as vezes em que vou para casa'.
Está claro que Mascherano se sente melhor quando está cercado pelas pessoas em quem pode confiar. No Corinthians, clube ao qual se uniu como parte de um mesmo negócio da Media Sports Investment (MSI), de Kia Joorabchian, que mais tarde levou-o a Upton Park, ele foi visto como muito agressivo. Ele se lembra de ter dito a Tevez que tinha esperanças de os brasileiros entenderem que ele era agressivo, mas perigoso, não'.
Por todo o tempo difícil, no entanto, suas exibições pelas Sub-17, Sub-19, Sub-20 e pela seleção nacional, pela qual ele foi escalado antes de ter jogado sequer um minuto pelo River Plate, dando-lhe confiança de sua capacidade.
Ele foi parte integrante da equipe que acabou em quarto lugar na Copa do Mundo Sub-17, em 2001, eleito o jogador do torneio pelos companheiros de equipe na Copa América, em 2004, e, em seguida, conquistou o ouro Olímpico, em Atenas.
Ambos, Diego Maradona e Benitez, o chamaram de 'um jogador monstro', o ex disse que ele 'tem garra (estilo corajoso) e distribui a bola com grande precisão'.
Alonso, seu companheiro de equipe, disse: 'Ele ainda não fala um inglês perfeito, mas em campo você tem que falar com os seus pés. Ele joga como um jogador de 30 anos de idade. Ele tem cabeça fria. Ele está analisando e pensando sobre o jogo a todo o momento'.
A maturidade de Mascherano é a chave. Com pouca idade, ele partiu para se tornar o completo meio-campo defensivo. 'Quando era criança eu sonhava em ser como o [Marcelo] Gallardo, o magnífico nº 10, o habilidoso, o capitão e o ponto de referência dos lançamentos. Mas eu não teria conseguido, simples assim. Se tivesse todas as suas habilidades eu não poderia ser um jogador de defesa, um nº 5. Eu conheço minhas limitações: primeiramente tenho que marcar os oponentes, então ter a habilidade de distribuir o jogo. Eu não acabaria fazendo nada se tentasse algo mais do que isso'.
Benitez sabia o que ele estava comprando. 'Ele é um vencedor', disse Benitez. 'Tem 22 anos e tem 22 escalações pela seleção: quantos jogadores na Inglaterra foram escalados tantas vezes, e, para um país tão grande assim, nessa idade? É incrível. Eu não tenho dúvida alguma sobre as qualidades e a mentalidade de Javier. Ele pode não ser muito alto, mas é um rapaz forte'.
O jogo contra o Milan será o décimo primeiro de Mascherano com a camisa do Liverpool. Eles não perderam quando ele jogou. Ele está confiante que o Liverpool vai prevalecer em Atenas, mas disse que os acontecimentos de dois anos atrás não terão nenhuma influência no resultado. 'Está é uma nova história', disse. 'O Milan ganhou do United na semifinal com muita autoridade. São clubes tradicionais na Copa Européia, então vai ser uma briga dura.
'Eu espero que seja uma grande final. Temos estilos diferentes de jogo e será uma partida fascinante. Estamos decididos a jogar com um estilo duro como o Chelsea nas semifinais. Foi um empurrão enorme que nós esperamos que nos dê inspiração em Atenas'.
Mascherano está pronto para fazer a sua parte. É o jogador absoluto da equipe, cujo livro favorito quando ele estava na escola foi escrito pelo lendário técnico do LA Lakers, Phil Jackson. 'Gosto dele porque escreve sobre o atletismo, sobre como o grupo é mais importante do que o indivíduo', disse.
Não é de admirar que Benitez goste dele.