Wednesday, May 23, 2007

Ex-espião é acusado no caso Litvinenko

Ex-espião é acusado no caso Litvinenko
Grã-Bretanha pede extradição de Andrei Lugovoi pelo envenenamento do ex-agente da KGB morto em 2006; Kremlin nega

Promotores britânicos acusaram ontem o ex-agente da KGB Andrei Lugovoi pelo assassinato de Alexander Litvinenko e exigiram que ele seja extraditado pela Rússia. Litvinenko, também ex-agente da KGB e asilado na Grã-Bretanha desde 2000, morreu no ano passado em Londres após ser envenenado com a substância radioativa Polônio-210.
A chanceler britânica, Margaret Beckett, convocou ontem o embaixador russo em Londres, Yury Fedetov, para comunicá-lo da decisão da promotoria. 'Esse é um crime grave. Esperamos total cooperação das autoridades russas para que o acusado enfrente a Justiça britânica', afirmou a chanceler. A viúva de Litvinenko, Marina, disse estar 'aliviada' com a decisão britânica.
A Rússia, no entanto, já afirmou que a Constituição do país não permite que cidadãos russos sejam extraditados. De acordo com a Promotoria russa, Lugovoi poderia ser julgado na Rússia com as provas obtidas pela Scotland Yard. Desde 2001, o governo russo fez 17 pedidos de extradição ao governo britânico, um deles relacionado ao magnata russo Boris Berezovski, adversário político do presidente russo, Vladimir Putin, e também asilado na Grã-Bretanha desde 2000. Nenhum dos pedidos foi atendido.
A decisão britânica de acusar Lugovoi é mais um capítulo em um caso repleto de intrigas e reviravoltas. Tanto Putin quanto Berezovski já foram citados como possíveis mandantes do crime - Lugovoi e Litvinenko já trabalharam em ocasiões separadas para o magnata russo. Crítico feroz de Putin, Litvinenko denunciou em 1998 um plano do Kremlin para assassinar Berezovski.
O ex-espião foi envenenado em Londres no dia 1 de novembro de 2006, após se encontrar no hotel Millenium com Lugovoi e o empresário russo Dmitri Kovtun. Depois do encontro, Litvinenko almoçou num restaurante japonês com o italiano Mario Scaramella, que teria informações sobre o assassinato da jornalista russa Anna Politkovskaya, crítica do governo russo. Politkovskaya foi morta a tiros em seu apartamento em Moscou em outubro de 2006. Após passar três semanas agonizando em um hospital de Londres, Litvinenko morreu no dia 23 de novembro. Dias antes, o ex-agente escreveu uma carta na qual acusou Putin de ter ordenado o seu assassinato.
Desde o começo das investigações, Lugovoi e Kovtun negaram participação no caso e disseram que foi Litvinenko quem tentou envenená-los. Ambos foram tratados por contaminação por Polônio-210. Após a morte de Litvinenko, a polícia britânica encontrou traços da substância em vários escritórios e hotéis visitados por Lugovoi, e até no avião da British Airways em que ele viajou de volta para Moscou.
Ontem, Lugovoi afirmou que as acusações do governo britânico têm motivação política. Fontes judiciais britânicas afirmaram que os promotores não encontraram provas suficientes para indiciar Kovtun.
Lugovoi disse ontem que fará revelações surpreendentes 'em relação a certos indivíduos de origem britânica em território britânico' - numa referência a Berezosvki. O magnata foi acusado por deputados russos de ter ordenado o assassinato de Litvinenko para prejudicar o governo de Moscou. '
Putin é um criminoso. Ele ordenou pessoalmente o crime', disse Berezovski, em entrevista exclusiva ao repórter Jamil Chade, do Estado.
AP, THE NEW YORK TIMES, THE GUARDIAN E REUTERS
(O Estado de S. Paulo, Internacional, 23/05/2007)