Friday, November 25, 2005

Lula não pode receber Tevez no Planalto


BARBARA GANCIA

A que ponto chegamos! No triste episódio do vai-não-vai na cassação de Zé Dirceu, o PFL -justo o PFL-, foi único partido que se dispôs a peitar os governistas. Disse que não votaria mais nada no Congresso enquanto o comunista "temente a Deus" (só no Brasil) Aldo Rebelo não marcasse a data da votação do deputado Dirceu.Alô, PSDB! Que tipo de oposição é essa que se esquiva de fazer seu papel? Em breve, não sobrará mais muro para ficar em cima...
No programa sobre mídia esportiva "Parabólica", que apresento de segunda à sexta no canal de TV paga Bandsports, afirmei que Juca Kfouri estava sendo severo demais quando disse que o presidente Lula não deveria receber Carlitos Tevez no Planalto.Segundo Juca, ao receber Tevez, Lula estaria simbolicamente abrindo as portas à MSI, do russo Boris Berezovski, empresa que é objeto de inquérito pelo Ministério Público de São Paulo.Argumentei no programa que todo mundo, até os não-corintianos, quer ver o presidente dar um abraço em Tevez e que o gesto, além de simpático, faria maravilhas pelas relações entre Brasil e Argentina.Pois eu falei uma baita besteira. Veja só: assim como José Genoino, Lula é conselheiro do Corinthians. É sabido que o presidente mete o bedelho em tudo que diz respeito ao time, interferindo até mesmo na parte tática. Sendo assim, a proximidade de Lula com o grupo investidor do Corinthians estaria no limite do limite do aceitável.O adorável Tevez não tem nada a ver com o angu, é óbvio. Mas, se já dói na alma tomar conhecimento de que o presidente da República assiste a DVDs pirateados, que dirá saber que ele faz parte do conselho de um clube bancado por um milionário que a imprensa européia se cansa de chamar de "mafioso"?O jornal "Financial Times" publicou um artigo intitulado "Por que os russos estão lubrificando as rodas do futebol?" que causou furor em terras tapuias (e pode ser acessado, em português, no site de Antonio Roque Citadini: www.citadini.com.br).Ao contrário da tese vigente, o "FT" diz que os russos não lavam dinheiro comprando times de futebol. Eles o fazem para adquirir status e angariar simpatia, tal e qual os novos-ricos dos anos 20, nos EUA.Para Kfouri, o modelo "repete exatamente o que os bicheiros cariocas fizeram com o Carnaval, e com o futebol, nos anos 70".Sei que o corintiano que já está celebrando o título deve estar me mandando às favas. Mas é melhor prevenir do que remediar.

(Folha de S. Paulo, Cotidiano, 25/11/2005, p. C-2)

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