Sunday, April 30, 2006

Varig negocia com magnata russo

Exilado na Inglaterra, Berezovsky é procurado na Suíça, na França e em seu país por lavagem de dinheiro

Jamil Chade
Marcos Rogério Lopes

O magnata Boris Berezovsky, apontado como o maior acionista do fundo de investimentos MSI, parceiro do Corinthians, estuda um plano para salvar a Varig. Ele esteve por duas semanas no Brasil e se reuniu com a alta cúpula da empresa aérea por vários dias. Procurado na Suíça, França e em seu país por lavagem de dinheiro, ele admitiu ao Estado, com exclusividade, que avalia investir na empresa brasileira. Berezovsky vive exilado na Inglaterra e é acusado de ter participado no desvio de US$600 milhões da empresa aérea russa Aeroflot para contas na Suíça, segundo o Tribunal Federal Suíço.

"Acabo de regressar hoje (ontem) do Brasil, onde encontrei pessoas extremamente interessantes e estudadas", afirmou o russo. Ele mora Londres com aval do governo britânico, mas tem seus passos seguidos de perto pelo governo russo. No final do ano passado, ele já havia indicado ao Estado seu desejo de conhecer o Brasil, o que gerou da embaixada russa em Brasília comentários de que o empresário seria preso se fizesse tal viagem.

Berezovsky não explicou como conseguiu visto para entrar no Brasil, mas garantiu que quer "voltar logo" ao País. "O Brasil é cheio de oportunidades de negócios. Uma delas é a Varig e estou estudando a situação da empresa para tomar uma decisão", afirmou.

Quem convenceu o investidor a vir ao País foi seu braço direito no Brasil, o empresário Renato Duprat. "Ele é do ramo, já foi dono da Aeroflot e tem interesse em investir no Brasil, que considera uma das mais promissoras economias do mundo, ao lado de China e Índia", disse Duprat, que foi dono da Unicor, empresa de assistência médica que faliu deixando dívidas e pendências com ex-funcionários e clientes no fim da década de 90.

Foi o brasileiro quem apresentou ao Corinthians o iraniano Kia Joorabchian, amigo de Berezovsky e presidente do fundo MSI. Também é Duprat que costuma servir de ponte e intérprete nas conversas do presidente do clube paulista, Alberto Dualib, com o investidor.

O russo ficou hospedado no Hotel Unique e se encontrou diariamente com a alta cúpula da Varig. "Foi lá o presidente, o vice e um diretor. Mas agora não sei os nomes", afirmou Duprat. "Foram várias reuniões nas quais eles detalharam a situação da empresa, mostraram o tamanho da companhia e tentaram convencer o Berezovsky da viabilidade do investimento." De acordo com Duprat, não se falou em valores. "Ainda é muito cedo para isso. Sequer se mencionou de quanto seria a oferta", garantiu.

Berezovsky jamais admitiu ter investido na MSI e nem tampouco o fundo de investimentos confirma a ligação com o milionário russo. O magnata garantiu não ter tratado de temas relacionados ao Corinthians. "Fui apenas tratar de outros negócios", disse.

"Tenho certeza de que o Brasil será uma das economias que mais crescerão nos próximos cinco ou seis anos."

A Varig informou que recebe qualquer pessoa interessada em participar do processo de capitalização da companhia e que o russo se apresentou como possível investidor.

Até sexta-feira à noite havia quatro propostas no processo de recuperação da Varig: a da Varig Log (US$ 400 milhões), o chamado Plano B (venda da parte doméstica com financiamento pelo BNDES), o projeto do movimento Trabalhadores do Grupo Varig (TGV) e a proposta que o consultor Jayme Toscano disse representar e que geraria uma injeção de recursos de US$ 1,9 bilhão.
COLABOROU NILSON BRANDÃO JUNIOR

(O Estado de S. Paulo, Economia & Negócios, 30/04/2006)