Sunday, November 26, 2006

Perfil: Pini Zahavi, primeiro e único super-agente do futebol

Jamie Jackson
Terça-feira, 26 de Novembro de 2006
Observer Sport Monthly

Certa tarde, na última semana de outubro, Pini Zahavi foi a uma reunião no Les Ambassadeurs, um cassino e clube privê em Mayfair, Londres. No restaurante do clube, ele discutiu negócios com Kia Joorabchian, empresário iraniano que está encabeçando uma proposta de controle do West Ham. Na mesa à frente deles estavam telefones celulares, faxes, agendas e uma bandeja de chocolates belgas.

Zahavi é o primeiro e único super-agente do futebol, e ele e seu sócio fumavam roliços charutos cubanos enquanto discutiam os detalhes do prolongado controle. Durante toda a tarde, Zahavi atendeu chamadas em seus dois celulares, alternando, fluentemente, entre seu hebraico nativo, o português, o alemão e o inglês, enquanto discutia futuras viagens e negócios. 'Talvez se eles trouxerem €15 milhões de euros para o River Plate, mas o preço vai subir', ele falou em um dos telefonemas, antes de sorrir e ofertar a breve biografia de um emergente jogador argentino. Joorabchian, entretanto, mencionou o 'presidente do Benfica' e perguntou quantos assentos Zahavi necessitaria para o jogo do Arsenal com CSKA Moscow, pela Liga dos Campeões, essa semana.

Ao contrário da noção que prevalece, de que falta transparência nos negócios financeiros do futebol e que estes são orquestrados por empresários secretos, a dupla estava relaxada e desprotegida. Durante todo o tempo que passei com eles, Zahavi foi gentil, bem-humorado e franco. Quando Carlos Alberto, o goleador brasileiro que ganhou a Liga dos Campeões, sob o comando de José Mourinho, no Porto, chegou para a reunião, Zahavi deixou-o esperando enquanto continuávamos a conversar.

Sua explicação para dar a esta revista sua primeira entrevista importante foi simplesmente: 'Gostei do som de sua voz no telefone. Esta é a forma pela qual julgo as pessoas. E você e eu somos parecidos, porque eu também fui um jornalista'.

É novembro de 1981 e a seleção de Israel está em Belfast, preparando-se para o jogo de classificação para a Copa do Mundo contra a Irlanda do Norte. Zahavi, então um jornalista esportivo do Yedioth Ahronoth, maior jornal de Israel, está sentado em uma cama no seu quarto de hotel, fumando o charuto obrigatório. No quarto com ele está Yossi Melman, também na cidade para ver a partida como correspondente de Londres, para o Ha'aretz, um jornal Israelense.

'Yossi', Zahavi diz, 'quero que você aprenda uma lição da minha história. Minha forma de trabalhar é a cada quatro ou cinco anos mudar de um jornal para outro'. Antes de trabalhar no Yedioth, Zahavi, então com 36 anos, tinha trabalhado para o Hadashot Hasport, um jornal de esportes, antes de sair após a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha Ocidental. Depois desta conversa de 1981, ele trabalhou no Yedioth por mais quatro anos, antes de mudar para um outro periódico chamado somente Hadashot; ele finalmente encerrou sua carreira como jornalista em 1988.

Melman resumiu a história. 'Hadashot Hasport era muito, muito popular em Israel. Pini me contou, "Yossi, se você se mudar de um lugar para outro, você recebe compensação e um salário melhor". Então eu perguntei a ele, "Você está interessado em ganhar dinheiro"? Ele me olhou e disse, "Naturalmente. Eu não quero permanecer como um probre correspondente de esportes"! Pini estava rindo e rindo e rindo...’

Zahavi, desde então, certamente ganhou dinheiro. Um sócio próximo acredita que ele tem mais que o suficiente, pelo menos £65milhões de libras, 'o que permite a ele se aposentar com um estilo de vida muito confortável. Porém, ele ama o trabalho'.

Pini Zahavi é um promotor do futebol por excelência, o homem que pode começar, negociar e finalizar qualquer negócio, seja para um jogador, clube ou agente, seja o que for, grande ou pequeno. Ele deve ter os melhores contatos no esporte. 'Sim, tenho conexões muito, muito boas', diz sorrindo 'porque eu nunca desapontei ninguém no mundo. E o que eu faço, faço honestamente e sem nenhuma fraude. Digo o que eu quero dizer'.

O crescimento de Zahavi coincidiu com a transformação do futebol no fenômeno global que é hoje. A riqueza dos jogos, influência e poder foram impelidos pela expansão da Copa do Mundo e pela criação da Liga dos Campeões, e o aumento enorme das transmissões por televisão e renda de patrocínios, que transformou as ligas nacionais e fizeram da Premier League inglesa a mais rica no mundo.

Ele esteve envolvido em alguns incidentes bem discutíveis recentemente, tais como a tranferência de £30 milhões de libras, de Rio Ferdinand do Leeds United para o Manchester United, em 2002 e as reuniões secretas com representantes do Chelsea envolvendo Sven-Goran Eriksson, em julho de 2003, e Ashley Cole, em janeiro de 2005. Ferdinand mudou entre dois ferozes rivais, para a fúria dos fãs do Leeds; Eriksson era o técnico da Inglaterra, contudo, permitiu-se ser cortejado pelo Chelsea, quando encontrou Roman Abramovich, seu novo proprietário; e Cole, o lateral esquerdo da Inglaterra, estava cumprindo contrato com o Arsenal e proibido de negociar com outros clubes quando ele e seu agente se encontraram com o técnico José Mourinho e Peter Kenyon, o diretor-geral do Chelsea.

Contudo, não importa o que aconteça, Zahavi sempre desponta incólume. Ele está registrado como um agente em Israel, então foi fora da jurisdição da Associação Inglesa de Futebol. Enquanto Kenyon, Jonathan Barnett, agente de Cole, Mourinho e o Chelsea foram todos punidos depois que sua reunião tornou-se pública, a FA e a Premier League estavam impedidas de investigar a participação de Zahavi. Agora, a FA alterou seus estatutos para precaver-se contra estes acontecimentos novamente, e pediu que a Fifa investigasse o papel de Zahavi no incidente.

Zahavi - cujos amigos incluem Ehud Olmert, Primeiro-Ministro de Israel, e Reuven Rivlin, um ex-porta voz do parlamento de Israel, o Knesset, e um possível futuro presidente, tem diversificado seus interesses recentemente. Junto com Eli Azur, o proprietário de vários jornais russos em Israel, ele possui a Charlton, uma empresa de mídia que detém os direitos de transmissão dos jogos da Premier League, assim como das partidas domésticas do divisão principal de Israel (embora sua popularidade nos torneios locais tenha caído num primeiro momento, quando a temporada da Copa do Mundo foi transmitida na televisão paga).

Em 2003, Zahavi ajudou a trazer Roman Abramovich para o Chelsea. Ele foi apresentado a Abramovich há dois anos, em Moscou, por um amigo em comum e a amizade foi consolidada quando ele convidou o bilionário para assistir um jogo da Liga dos Campeões, entre o Manchester United e o Real Madri, em abril de 2003, dois meses antes do oligarca comprar o Chelsea.

Zahavi era o favorito para fazer este negócio se concretizar. Ele era influente, além do mais, tinha ascendência sobre os novos jogadores que chegaram ao clube na temporada. Estima-se que ele tenha ganho algo em torno de £5milhões de libras, dos £111milhões de libras que o clube investiu em atletas nesta temporada. A chegada de Abramovich ao futebol inglês gerou acusações que sua bizarra riqueza (os gastos com transferências do Chelsea alcançaram £441.5milhões de libras) desequilibrou o esporte inglês e europeu.

Em janeiro passado, Zahavi ajudou Alexandre Gaydamak a comprar o Portsmouth. Alexandre, ou Sacha, é filho de Arkady Gaydamak, um oligarca exilado, nascido na agora independente Ucrânia, que possui o Beitar de Jerusalém.

Então, em agosto, Zahavi apresentou ao futebol inglês o negócio tripartite, antes que os clubes bretões comprassem jogadores, como os internacionais argentinos Carlos Tevez e Javier Mascherano, trazidos ao West Ham num negócio sensacional. Isto foi facilitado pela Media Sports Investment - MSI, uma companhia antes encabeçada por Joorabchian e para a qual Zahavi age como corretor. A iniciativa de empresas comprarem jogadores tem sido, disse-me Zahavi, prática corrente na América do Sul 'por mais de 25 anos' e vai se tornar aqui também 'se o futebol inglês quiser sobreviver'.

Zahavi é único consultor do Hero Football Fund, até esta temporada. Os membros do comitê incluem David Elleray, antigo árbitro da Premier League, e QC David Griffith-Jones, especialista em direito desportivo. Isto ajuda a levantar £100milhões de libras de fontes privadas para adquirir os direitos comerciais dos jogadores. Este, disse Zahavi, é um dos muitos esquemas nos quais ele está envolvido, embora a MSI seja a mais visível. Em 2004, a MSI comprou o controle acionário do Corinthians, do Brasil, num negócio de 10 anos, o qual levou Tevez e Mascherano, que foram comprados, respectivamente, 100% e 50% pela MSI, para o clube de São Paulo em uma jogada combinada de £23milhões de libras (a TV Globo, uma companhia brasileira de televisão, adquiriu os outros 50% de Mascherano) comprando-os de seus clubes argentinos, Boca Juniors e River Plate. Apesar de algum sucesso em campo, eles nunca se fixaram no Brasil e agora estão no West Ham, onde eles jogam.

Quais são as vantagens dos jogadores de propriedade tripartilhada? Um empresário próximo de Tevez e Mascherano acredita que 'os jogadores não se interessam por quem os compra, clube ou empresas privadas, desde que eles (clubes ou empresas) tomem conta deles'. A mudança de Tevez do Boca Juniors para o Corinthians foi agenciada por Fernando Hidalgo, um agente argentino, sócio de Zahavi em sua empresa Haz Sports, que é sediada em Buenos Aires.

A transferência de Tevez e Mascherano para o West Ham, acredita-se nada ter custado ao clube londrino a não ser a taxa agencial de £5milhões de libras. Porém, há uma cláusula no negócio estipulando que o West Ham é obrigado a vendê-los se alguma oferta for feita pelos dois atletas nos próximos 5 anos. Em contrapartida, se o West Ham desejar ficar com os jogadores, deverá pagar £40milhões de libras. Isto é opção de compra, o contrário da cláusula comum de compra e venda, num contrato que estabelece que um jogador deve ser vendido, se um valor é recebido diante de um montante acordado.

Zahavi não é acionista da MSI; sabe-se que a empresa pertence a Badri Patarkatsishvili, um bilionário georgiano, proprietário do Dínamo Tbilissi, que é apoiado de alguma forma pelo oligarca russo Boris Berezovsky, que atualmente vive em Londres. Zahavi agiu como agente do West Ham no negócio que trouxe os argentinos para Londres e, portanto, deverá ser pago pelo seu trabalho, da mesma forma que Abramovich, ao comprar o Chelsea.

Numa época de globalização que importa se um clube é adquirido por interesses estrangeiros? Ou um jogador por três sócios? Jimmy Hill, envolvido em esportes por mais de 50 anos como jogador, técnico, administrador e operador de mídia, acredita que esquemas como os do Hero Fund, de Zahavi, assim como o crescimento dos oligarcas, são bons enquanto deixam dinheiro suficiente para manter os clubes solventes. 'De uma forma estranha os fãs vão protestar sobre o que está acontecendo, por causa de suas expectativas irrealistas de que seus clubes devem sempre estar ganhando', disse-me ele.

No entanto, Gordon Taylor, diretor geral da Professional Footballers' Association (Associação de Jogadores de Futebol Profissonal), é, previsivelmente, contra a prática de propriedade tripartida. 'É como negociar seres humanos', diz. 'E é desestabilizante forasteiros terem interesses financeiros em atletas’.

Kevin Roberts, que é diretor editorial do SportBusiness, uma respeitada revista mensal, concorda. 'É um perigo que jogadores nunca façam parte, adequadamente, do clube, sejam mais como água escorrendo. Sob o ponto de vista financeiro, um clube nunca possui verdadeiramente o jogador e, da mesma forma, não se beneficia quando ele vai embora outra vez'.

'O futebol mudou muito. Nas décadas de 1970 e 80, pelo menos no começo das temporadas, havia uma noção de que mais clubes teriam chance de conquistar os títulos. Agora, eu não estou tão seguro. Quando o Arsenal venceu o Manchester United no início desta temporada, nós estávamos somente na quarta rodada e as pessoas viviam dizendo que se eles perdessem seu desafio, ia virar um transtorno. E esta tinha sido somente sua segunda derrota na temporada. O que o dinheiro de Roman Abramovich fez foi elevar o nível muito além do que havia, enquanto no futebol o elemento chave é a competição'.

Porém, Dan Jones, um analista financeiro de futebol de uma filial municipal da Deloitte And Touche, diz: 'Propriedade tripartilhada já acontece aqui. Quando Danny Shittu estava no Queens Park Rangers, ele foi negociado em três partes (o fã Alex Winton comprou-o por £250,000 libras e também pagou seu salário durante a sua primeira temporada), É uma dificuldade para os investidores porque eles não podem obrigar seu jogador a fazer algo e há também a incerteza sobre quão bom ele poderá se tornar'.

Zahavi, entretanto, não se arrepende. 'O jogador de futebol quer pertença a uma empresa ou a empresários, continua integrado ao clube, porque a Fifa regula os direitos federativos, o registro pertence ao clube. Uma pessoa ou empresa só pode possuir os direitos econômicos. Se uma companhia compra os direitos sobre um jogador e ele vai jogar pelo West Ham, ou qualquer outro clube, então, quando ele é vendido, metade ou uma parte qualquer do pagamento, conforme o caso, é transferido ao proprietário dos direitos econômicos.

Zahavi acredita que Gordon Taylor, como muitos no futebol inglês, está simplesmente temeroso com esta mudança. Há xenofobia, também. “Tem havido uma campanha aqui contra os forasteiros e eu sou uma vítima disto”, disse-me ele. “Na Inglaterra eles não entendem absolutamente nada disso. É mais fácil comprar um jogador no qual você não tem segurança, por £10 milhões de libras se você está dividindo o risco com um parceiro. Agora, se o jogador se torna um craque e é vendido por £30 milhões de libras, então, naturalmente, você pode se sentir estúpido por possuir apenas metade do ganho. Mas, se o jogador se torna simplesmente comum, ou um fracasso, e não consegue ser vendido, você dirá: "Fantástico, o desastre não foi só meu.” Isso é exatamente o que acontece.

Zahavi concluíu seu primeiro negócio como agente em 1979, quando estava trabalhando como jornalista: a transferência do israelense Avi Cohen do Maccabi Tel Aviv para o Liverpool, por £200,000 libras. 'Não era como agora' disse ele. 'Naquele tempo eu simplesmente gostava de futebol. Mas, esse negócio me mostrou como você pode ganhar dinheiro com o jogo. Acho que este foi o verdadeiro começo dos agentes.'

O negócio envolve sorte, porém sublinha o encanto e o pensamento rápido de Zahavi. 'Eu costumava ir ao futebol, na Inglaterra, com Reuven Rivlin, a cada quatro semanas', disse. 'Um dia, ficamos retidos no aeroporto de Heathrow por causa do mau tempo. Eu vi Peter Robinson, secretário do Liverpool, e lhe falei: "Por que você não dá uma olhada num bom jogador Israelense, Avi Cohen"? Eles enviaram seu “olheiro” Tom Saunders para observá-lo e logo Avi foi para a Inglaterra para fazer um teste. Bob Paisley, então treinador do Liverpool, gostou dele. Assinamos'.

Cohen lembra o que aconteceu. 'Eu conheci Pini, do Yedioth', contou-me. 'Todos os sábados ele transmitia os jogos do Maccabi e ele escreveu algo sobre mim'. Como ele descreveria Zahavi? 'Ele é muito amigável. Eu lidei com ele por vários anos. É honesto, e é bom de conversa. Mas, em Israel, ele não é alguém que quer estar sempre nos jornais. Ele não é uma estrela. As pessoas não sabem quem Pini Zahavi realmente é. Sabem que ele trabalhou no futebol durante anos, mas isso é tudo'. Cohen voltou para o Maccabi em 1981, antes de jogar sob o controle de Graeme Souness, um amigo próximo de Zahavi, no Rangers, em 1987.

Levaria um tempo surpreendentemente longo até que Zahavi fizesse seu próximo negócio notável, a transferência em 1990 do goleador israelense Ronnie Rosenthal do Standad Liege para o Liverpool. 'Eu estava indo bem na negociação com Luton, mas eles não podiam pagar o preço', Rosenthal disse agora. 'Voltei para a Bélgica e Pini conversou com Kenny Dalglish, então técnico do Liverpool.'

Por que demorou tanto para que Zahavi completasse seu próximo grande negócio? 'Eu ainda era um jornalista', contou ele. 'E não havia nenhum jogador Israelense que eu pudesse vender a equipes estrangeiras. Estava sob ataques constantes de outros jornalistas e então parei de atuar como agente por alguns anos, para meu pesar. Muitos jornalistas são negociantes: com dinheiro, com pessoas e com notícias. Mas, fui atacado porque fiz de forma aberta'.

Durante a décade de 1980 ele assiduamente fez contatos. Organizou encontros internacionais amigáveis em Israel. Souness, então capitão do Liverpool, e Dalglish, foram convidados para passar um feriado em Eilat e 'voltaram todos os verões'. E, exibindo um toque mais suave, Zahavi levaria os alaranjados Israelenses a Melwood, campo de treinamento do Liverpool, dos jogadores e do pessoal.

Depois do negócio de Rosenthal a influência de Zahavi começou a crescer, especialmente na América do Sul, onde, entre outros, ele representava o goleador Chileno Marcelo Salas, que interessava ao Manchester United. Ele, porém, apontou o negócio que levou o meio de campo Israelense, Eyal Berkovic, do Southampton para o West Ham em 1997, como um dos mais importantes, porque foi aí que Zahavi notou o jovem Rio Ferdinand. 'Quando eu o vi soube no mesmo instante que ele poderia ser o melhor, na sua posição. Ele tinha tudo'.

Zahavi tornou-se seu agente. Hoje, Ferdinand é o jogador mais bem pago do Manchester United, ganhando algo em torno de £110,000 de libras por semana, do clube, e muitos milhões mais em luvas. No ano passado, Ferdinand foi fotografado num restaurante de Londres com Zahavi e Peter Kenyon, do Chelsea, na época de renovação de seu contrato com o United. Zahavi descreve o encontro como 'totalmente inocente'.

Pini Zahavi nasceu em 1955 em Nes Ziona, um pequeno povoado, localizado a 20 milhas a sudeste de Tel Aviv, com uma população estimada ao redor de 10.000 habitantes, que desde então, triplicou de tamanho. O filho de um lojista, Zahavi (que tem duas irmãs mais velhas e um irmão, um bem-sucedido cirurgião cardíaco) concluiu o jardim de infância e o ensino fundamental com Jacob Shahar, agora, presidente do Maccabi Haifa.

Shahar continua um grande amigo. No mês passado, ele e Zahavi sentaram-se junto com Sven-Goran Eriksson, durante uma partida do Haifa, inevitavelmente incitando especulações de que o sueco estava em posição de assumir o lugar de Alan Pardew, como técnico do West Ham. 'Nós jogamos futebol juntos, quando garotos, no centro de esportes de Nes Ziona', contou Shahar sobre Zahavi. 'Era nossa paixão. Porém, ainda muito jovem, Pini quis escrever.'

Zahavi diz: 'Futebol foi meu amor desde que eu era um bebê. Eu joguei pela equipe local e a treinei seu time juvenil por dois anos, antes de me alistar no exército.' Zahavi tinha 22 anos quando iniciou, sua jornada de oito anos no Hadashot Hasport, antes de se mudar para o Yedioth Ahronoth. 'Quando me juntei a eles, tinham apenas duas colunas esportivas, mas eu fiz três páginas, depois seis, então nove', contou-me numa conversa anterior, antes de nós encontrarmos. 'Era principalmente sobre futebol. O esporte não era o mesmo, mas durante os anos 70s, foi gradualmente ganhando em influência.'

Shaul Isenberg, um colega de Hadashot Hasport, lembra o compromisso de Zahavi com o trabalho. 'Pini era um jornalista excelente, um dos melhores. E era muito impetuoso. Sua atitude era de trabalhar 26 horas por dia, você entende o que eu quero dizer, sair da cama duas horas cedo. Se eu me surpreendi com o seu sucesso? Não. Para mim, desde o começo, ele foi uma grande estrela.'


Zahavi, que é viúvo e tem duas crianças, começou a fazer contatos mais importantes durante a Copa do Mundo de 1974. “O torneio me ajudou muito. Foi quando eu começei a conhecer pessoas e construir amizades.” Por volta da década de 1990, sua lista de contatos tinha se tornado extensa. Graeme Souness, Kenny Dalglish, Terry Venables e Ron Atkinson são amigos próximos, assim como 90% dos técnicos da Inglaterra. A próxima geração é ainda mais chegada. “Eles não me vêem como um ex-jornalista, mas como um rapaz que entende de futebol. Construí amizades fortes com muitos jogadores e nós nos tornamos como irmãos. Na Inglaterra, enquanto eu emergia, havia técnicos que nada sabiam sobre jogadores europeus. Você nem sequer consegue encontrar os resultados das outras ligas européias nos jornais. Era uma ilha deserta e eles não podiam deixar de se importar com o esporte mundial. Eu era capaz de ajudar a mudar atitudes.”

Zahavi tem escritório em Tel Aviv e, apesar da sua fortuna, vive modestamente, de acordo com amigos, num apartamento litorâneo de £200,000 libras, no norte da cidade. Aluga um flat em Marble Arch, centro de Londres, onde a sua amizade com Alex Ferguson está celebrada num quadro que retrata os dois se abraçando, que está colocado sobre a lareira de sua sala de estar.

Zahavi viaja continuamente. Durante uma conversa ele falou sobre as viagens para a Ucrânia e para a América do Sul, e, quando nos encontramos, ele estava planejando ainda obter mais milhas aéreas. Questionado sobre se ele tem qualquer outro interesse, ele simplesmente diz: “Nenhum outro além do futebol, eu nem sequer assisto outros esportes. Eu não tenho interesse em nada mais. É só futebol, futebol, futebol.”

Quando conversamos pela última vez, ele estava de volta a Tel Aviv, e pareceu mais tenso do que antes, talvez porque a tentativa do controle acionário do West Ham não estava funcinando como planejado. Seus interesses comerciais são como labirintos. Ele tem uma empresa sediada em Gibraltar, Global Sports Agency (GSA), que negocia em grande parte com Portugal e com o sul da Europa e tentou um negócio semelhante ao do Corinthians com um clube polaco, KSP Warszawa.

Há uma rede de olheiros e sócios trabalhando para ele ao redor do mundo, notadamente na África, que ele considera ser “a zona mais importante do futebol. Eu não acho que a Europa produzirá muitos novos jogadores. Os grandes virão da África e da América do Sul, que é o porquê de minha grande dedicação ao Brasil e à Argentina.”

Zahavi não tem nenhum pesar sobre a chegada de Abramovich à Inglaterra. “O que era o Chelsea antes da vinda de Roman?” Ele perguntou, retoricamente. Faltavam dois dias para decretação da falência. A situação era um desastre. O diretor geral à época, Trevor Birch, veio e realmente implorou. “Ajuda-me”, disse ele. “Nós não podemos pagar os salários.” Agora, o Chelsea é uma das melhores equipes do mundo. E isso graças ao dinheiro de Roman Abramovich.

Portsmouth estava a caminho do rebaixamento, não para a primeira divisão, mas para a segunda, ou para a terceira. Agora, estão indo bem. Porque, eu fiz coisas terríveis! Não, tudo que eu fiz foi conseguir trazer alguém que colocasse seu próprio dinheiro no clube. Mostre-me um clube na Inglaterra que trabalhe somente com ingleses, que não seja um negócio. Naturalmente, um clube de futebol é um negócio que serve à comunidade, mas, ainda assim, é um negócio. Quando o jogador conversa com o técnico sobre salário é dito a ele, "Desculpe-nos, mas não podemos pagar isso. Não se esqueça que nós estamos administrando um negócio". Sempre dizem isso. Essa é a razão pela qual se alguém disser que não é um negócio, ele acaba de mentir.”

Ele dá uma pausa. Agora, finalmente, está na hora do seu compromisso com Carlos Alberto, no bar do Les Ambassadeurs. Acende um novo charuto e aperta a mão calorosamente. “Observe o West Ham”, diz, incapaz de me deixar ir embora. “Porque se o rapaz que eu convenci a investir seu dinheiro, Eli Papouchado, um magnata israelense da hotelaria, entrar, eu prometo a você que, embora eles estejam agora lutando na liga, eles estarão OK. Investidores não se importam com quem possui o clube. Eles só se preocupam com o desempenho da equipe. É o mesmo no Japão, na Coréia, na Argentina, na Colômbia, na África, em toda parte.”

Zahavi sorri outra vez. E está acompanhado de Joorabchian, Carlos Alberto e um amigo identificado só como “Boris” - mas não é o oligarca Berezovsky. Por tudo que eu sei, Zahavi pode ter se juntado mais tarde com Abramovich ou Papouchado, Gaydamak ou Patarkatsishvili, para degustar uma garrafa de Cristal ou para jogar um blackjack ou uma roleta, no andar de cima, no salão privativo de jogos. Qualuer coisa parece possível no mundo de Pini Zahavi, e sua influência não parece ter limites.