Tuesday, November 28, 2006

Polônio foi detectado em escritório de Berezovsky

Sandra Laville e Tania Branigan
The Guardian
Detetives acharam, ontem à noite, vestígios de Polônio 210 no escritório de Boris Berezovsky, oligarca russo exilado em Londres. Os policiais estavam procurando na direção da Rua 7, distrito de Mayfair, depois da descoberta da substância radioativa que matou o amigo e ex-funcionário de Berezovsky, Alexander Litvinenko.
Um policial fardado e ao menos um em traje civil, estavam parados, ontem à noite, dentro do lobby da propriedade. Outros 15 policiais estavam do lado de fora, em estado de prontidão, em dois furgões da polícia e a área foi isolada.
Fontes confirmaram que vestígio de Polônio 210 foi encontrado no endereço. Berezovsky, um crítico declarado do Presidente Vladimir Putin, recusou-se ontem a comentar as revelações. "Eu não quero falar nada sobre isto", disse ele ao Guardian. "Eu não sei nada sobre a polícia estar em meu escritório."
Berezovsky, um ex-professor de matemática, fez sua fortuna na década de 1990 quando comprou ações de indústrias russas automobilísticas, petrolíferas e da mídia, muitas das quais, liquidou com lucros enormes. Ele vive com sua quarta esposa numa mansão em Surrey, mas tem um escritório em Mayfair.
Os detetives também procuraram no escritório de uma companhia de segurança privada britânica, na rua Grosvenor, na zona oeste de Londres, onde vestígios de Polônio 210 foram encontrados. Um porta-voz da companhia, Erinys, disse que tinha alertado a polícia porque o Sr Litvinenko tinha comparecido ao seu escritório para tratar de um assunto "sem ligação alguma com o investigado" pouco tempo antes de ter sido internado no hospital. Acrescentou ele: "Ninguém do nosso pessoal com quem ele teve contato sofreu qualquer efeito de contaminação".
A evolução aconteceu quando a Agência Britânica de Proteção à Saúde (HPA) informou que três pessoas estavam sendo submetidas a testes de radiação numa clínica especial, depois de terem entrado em contato com a NHS Direct (linha telefônica de aconselhamento confidencial e informação de saúde 24 horas ao dia), nos últimos dias. Elas estavam entre as 18 pessoas relacionadas pela HPA, que possivelmente realizariam exames, desde a divulgação do alerta de radiação, na sexta-feira.
Nos últimos quatro dias, cerca de 500 pessoas contataram a NHS Direct dizendo que estavam preocupadas com uma possível contaminação depois de terem estado no restaurante Itsu, em Piccadilly, ou no Millennium Hotel, na Grosvenor Square, no dia 1º de novembro, dia em que Litvinenko adoeceu.
A Dra. Pat Troop, diretora executiva da Agência Britânica de Proteção à Saúde, informou que as pessoas encaminhadas a clínicas especializadas, seriam, nos próximos dois dias, submetidas a exames de urina para detectar a presença de radioatividade. A decisão de encaminhá-las para a realização de testes foi adotada como "uma medida de prevenção", enfatizou. Futuros exames podem ser realizados caso a polícia identifique outras áreas de risco.
A Dra. Tropa disse que o HPA ainda não havia identificado, precisamente, quando e onde o Sr. Litvinenko havia ingerido o veneno. Calcular o tempo do envenenamento baseado na radioatividade encontrada no seu corpo "não é um cálculo preciso", acrescentou.
Numa declaração à House of Commons (Câmara dos Deputados), o Secretário do Interior britânico, John Reid, enfatizou que a polícia ainda tem que abrir um inquérito de homicídio. Ele advertiu contra qualquer tipo de especulação sobre a morte e disse que a polícia ainda não chegou à conclusão definitiva de que Litvinenko foi ilegalmente morto. "A polícia tem sido muito cuidadosa com as palavras; eles estão lidando com uma morte suspeita", informou. "Nós ainda não estamos no estágio de garantir definitivamente que exista uma terceira pessoa envolvida".
A declaração do Sr. Reid, veio em resposta a uma questão urgente levantada por David Davis, responsável pelo departamento do Interior no partido Conservador, de oposição, que disse na Câmara dos Deputados, que havia motivo para se suspeitar que isto tinha sido "um assassinato particularmente cruel e desagradável".
Davis disse que o aparente uso de Polônio 210 "levantou um grande número de questões”, sobre como tal material teria sido obtido, como foi transportado e entregue sem ter sido detectado, e ainda, quem teria o conhecimento necessário para usá-lo.
Reid disse haver 130 premissas na Inglaterra e em Gales de usos conhecidos de Polônio 210, cada um deles regulados e controlados pela Environment Agency (maior órgão público de proteção e recuperação do meio-ambiente da Inglaterra e País de Gales). "Não tinha nenhum relatório recente sobre perda, nem roubo de Polônio 210, na Inglaterra ou em Gales", disse.
Reid retraiu-se sobre as sinceras críticas de Peter Hain, do Kremlin, no fim de semana. O secretário de Irlanda do Norte, exerceu pressão nas relações da Grã-Bretanha com Moscou ao acusar o Presidente Putin de "enormes ataques” à liberdade e à democracia.
Tony Blair e o Presidente Putin estão prontos para se encontrar, esta semana, na conferência da Otan em Riga, na Letônia. Um porta-voz de Blair informou ontem: "O primeiro-ministro e outros ministros, repetidamente salientaram nosso interesse sobre alguns aspectos dos direitos humanos na Rússia. Sobre este caso em particular, no entanto, nós temos que agir cuidadosamente".
Litvinenko, um ex-agente da KGB e oponente declarado de Putin, morreu na noite de quinta-feira passada. Uma grande dose de radiação alfa do isótopo Polônio 210 foi encontrada na sua urina. Uma declaração que ele fez antes de morrer culpou Putin, acusação esta negada pelo Kremlin.
Especula-se que o inquérito sobre a morte será aberto na quinta-feira, no Tribunal St. Pancras Coroners, no Norte de Londres. Ele será postergado até uma data posterior. O médico legista do distrito, Dr. Andrew Reid, terá que decidir se e quando irá realizar o exame póstumo.