Thursday, December 07, 2006

Berezovski quer MSI, diz Corinthians

- tá russo


Foragido de seu país, magnata pode controlar futebol; intermediário que apresentou fundo ao clube festeja negociação

Segundo Renato Duprat, polêmico investidor quer total controle da empresa, mas não definiu prazo para a operação, negada por Kia

RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL


Da noite para o dia, o magnata russo Boris Berezovski saiu da sombra e está disposto a assumir o controle da MSI. Ou seja, do futebol corintiano. É o que disse ontem, por telefone, Renato Duprat, que está em Londres, representando o Corinthians, justamente para tentar evitar o fim da parceria com a empresa de Kia Joorabchian.
Segundo Duprat, que faz a ligação entre o clube e os investidores, o russo, foragido em seu país e que hoje vive na Inglaterra, estuda comprar a MSI.
O brasileiro, que intermediou a parceria, procurou Berezovski a fim de pedir a indicação de um possível novo investidor. Foi o russo quem o apresentou ao iraniano em 2004.
"Tive uma reunião com o professor Boris, e apresentei a ele um plano de negócios. Ele me disse que está disposto a assumir o controle das operações da MSI. Vai analisar melhor os números, e voltaremos a conversar", afirmou Duprat.
A firma de Kia nega a negociação. "A MSI não está à venda e jamais teve conhecimento de qualquer intenção do empresário Boris Berezovski nesse sentido, seja formal ou informalmente", informou a empresa, por meio de sua assessoria.
Duprat declarou que Berezovski negociará a compra da MSI com investidores, e não com Kia, a quem chama de gerente. Porém o iraniano é o presidente da MSI brasileira.
A suposta intenção do russo pode amenizar a pressão que Dualib sofre de seus vices, conselheiros e torcedores, já que todos dão a parceria como terminada e o clube sem verba para montar um time competitivo. O magnata, condenado por lavagem de dinheiro em seu país, daria um novo fôlego para o Corinthians se reforçar.
Por outro lado, sua presença aumentaria a pressão dos opositores e o cerco das autoridades sobre a parceria.
Duprat anuncia o interesse de Berezovski justamente no momento em que o magnata está envolvido em mais um caso nebuloso, a morte de um ex-espião do serviço secreto russo que era seu funcionário.
De acordo com Duprat, Berezovski declarou que só será investidor se tiver o controle da parceria, mas não definiu um prazo para se decidir.
Até agora, o russo só assumia o interesse em construir um estádio no Brasil e investir em outros segmentos no país.
Em maio, esteve no país para discutir a compra da Varig. Entrou após uma consulta ao governo brasileiro. Obteve autorização na condição de exilado político na Inglaterra, apesar de sua prisão ser pedida pelas autoridades russas.
Porém ele acabou interrogado Polícia Federal. Foi parte das investigações da Polícia Federal sobre a suspeita de que a MSI entrou no país para lavar dinheiro, conforme concluiu o Ministério Público Estadual. Os promotores paulistas identificam Berezovski como um dos chefes do negócio. Sua suposta participação é o principal indício do crime de lavagem.
"Se o Boris assumir, não existe mais suspeita de lavagem. Isso só existe porque os investidores não são conhecidos", disse Duprat, que falou que o russo mudou de idéia sobre investir no Corinthians porque agora conhece melhor o projeto.
Apesar de Berezovski sempre ter negado seu envolvimento na parceria, Dualib chegou a dizer à PF que ele era um dos investidores. Pediu depois para seu depoimento ser retificado.

(Folha de S. Paulo, Folha Esporte, 07/12/2006, p. D-1)


QUEM É BORIS BEREZOVSKI?

O magnata russo

IDADE: 60 anos
ORIGEM: Rússia
FORMAÇÃO: Matemática
FORTUNA: US$30 bilhões
COMO ENRIQUECEU: foi beneficiado pela compra, a preços baixos, das estatais da ex-URSS
ONDE ATUA: empresas automobilística, petrolífera, de alumínio, companhias aéreas, rádios e TVs
CRIMES: é acusado de lavagem de dinheiro, de financiar grupos terroristas e de assassinatos
ONDE VIVE: em Londres, onde é asilado político

(Folha de S. Paulo, Folha Esporte, 07/12/2006, p. D-1)


- saiba mais

Ex-conselheiro de magnata foi assassinado

DA REPORTAGEM LOCAL
E DO PAINEL FC

O magnata russo Boris Berezovski vê seu nome envolvido em uma trama de assassinato de um ex-espião do FSB, o Serviço Federal de Segurança da Rússia, seu ex-conselheiro Alexander Litvinenko. Ele foi envenenado na semana passada em Londres, onde vivia, assim como Berezovski, asilado.
Litvinenko denunciou em 1998 uma série de ações ilegais da FSB, então comandado pelo atual presidente russo Vladimir Putin.
À época, disse ter recebido ordem de Putin para assassinar Berezovski, então secretário do Conselho de Segurança e inimigo declarado do hoje presidente russo.
Em 2000, Litvinenko conseguiu fugir para Londres com a família e mantinha estreita relação com Berezovski. Ele não parou de denunciar abusos do regime russo.
Em carta póstuma, Litvinenko, que morreu dias após o envenenamento, acusou o governo russo. A morte dele aumentou a tensão entre Rússia e Inglaterra, que deu asilo a Berezovski. (EAR E RP)

(Folha de S. Paulo, Folha Esporte, 07/12/2006, p. D-1)