Wednesday, March 21, 2007

Hammers defrontam-se com a questão dos atletas de terceiros

O West Ham United apresentou sua defesa, no prazo na última sexta-feira, às acusações da Premier League surgidas quando da assinatura dos contratos internacionais com os argentinos Carlos Tevez e Javier Mascherano do Corinthians do Brasil no verão passado. O clube nega ter negócios com quatro companhias offshores que "possuem" os direitos dos dois jogadores, caracterizando um rompimento das regras, mas a Premier League acredita estar diante de um caso grave e o consenso em redor de futebol é que o West Ham, enfrentando uma temporada horrorosa, pode estar se unindo a grupos comprometedores.
O questionamento inicial da Premier League é que os negócios permitiram aos "proprietários" dos jogadores "influenciar materialmente" o West Ham e suas "políticas ou o desempenho de sua equipe" - uma violação à regra U18 da liga - mas há possivelmente mais gravidade num segundo aspecto. Trata-se do acompanhamento da decisão de o clube não reportar à Premier League sobre a existência de seus acordos com tais companhias, culminando em um processo nunca visto na história de 15 anos da Premier League inglesa: o West Ham errou ao agir "com extrema boa fé". Sabe-se que duas reuniões seguramente ocorreram em agosto passado, nas quais Richard Scudamore e Mike Foster, o diretor geral da Premier League e seu secretário, questionaram Paul Aldridge, então diretor-geral do West Ham, e um outro de seus diretores sobre a existência de qualquer documento relevante sobre as contratações dos jogadores que não tenha sido apresentado à liga. A Premier League constatou nada existir.
Cinco meses mais tarde, quando o Liverpool assinou o empréstimo de Mascherano, a documentação enviada à Premier League incluiu um termo de acordo do Liverpool com duas companhias "offshores", Global Soccer Agencies e Mystere Services Ltd, que "possuem" o "direitos econômicos de Mascherano". Scudamore voltou ao West Ham - então sob propriedade dos investidores islandeses Eggert Magnusson e Bjorgulfur Gudmundsson - e só então, em 24 de Janeiro deste ano, fez o West Ham expor os próprios acordos. Entende-se que mostrar como o West Ham contratou Mascherano em empréstimo, dessas mesmas duas companhias, e Tevez de duas outras, Just Sports Inc e Media Sports Investiment, companhia que possui o Corinthians e teve ligações com Kia Joorabchian, o homem de negócios que então tentava comprar o West Ham. A acusação da Premier League é que esses acordos dão poder de influência às companhias sobre as políticas do clube e do desempenho do time. Cobrou o West Ham pelo desrespeito à regra U18, e pelo fato de o clube não conseguir expor ou mesmo, deliberadamente, ocultar estes contratos. Logo depois veio a demissão do antigo presidente, Terry Brown, como do diretor de futebol do clube e recriminações amargas dos proprietários islandeses, que atribuem o negócio à antiga gestão. As acusações são tão sérias que, se encontrados os culpados por uma comissão independente de três especialistas, no mês que vem, o West Ham espera receber uma multa e a dedução de pontos no campeonato. Ainda que apelassem, a Premier League espera ter qualquer apelo analisado até o final da atual temporada.
Selecione entre os fatos das manchetes o que parece ser uma saga incomparavelmente sinistra, no entanto, haverá um caso a ser apurado no West Ham.
A prática do homem de negócios-investidor "dono" de jogadores sente-se fundamentalmente repelida pelo futebol inglês, mas é comum em outras partes, particularmente no Brasil e na Argentina onde diversos jogadores brilhantes despontam numa paisagem desolada de clubes insolventes. Os empresários compram participações nos "direitos econômicos" de jovens atletas, freqüentemente pagam de início ao jogador para treinar e manter suas acomodações, e, então, eles conquistam o direito do lucro integral, ou de grande parte deste, nas transferências se o jogador se sair bem e for vendido. Pini Zahavi, o agente israelense, aprendera este negócio na América do Sul, e há alguns anos ele atua como um conselheiro da Global Soccer Agencies, a companhia que tem uma parte dos direitos de Mascherano. Zahavi ajudou na corretagem do negócio que levou os dois jogadores ao West Ham, que pagou por atleta £339.000 (US$670.000 dólares) às "próprias" companhias - cujos investidores são desconhecidos. A primeira ação da Premier League está relacionada aos termos dos acordos feitos entre estas companhias e o West Ham. Quando Tevez e Mascherano assinaram seus contratos, especulava-se que os investidores podiam determinar que os dois jogadores tivessem que ser escalados pela equipe. Aparentemente não foram muito longe. Uma fonte do West Ham disse que era homem o bastante para apontar isto pelo fato do técnico, Alan Pardew, não escalar a dupla numa mesma partida.
Aliás, o ponto crucial do negócio era esse: o West Ham pagaria os salários dos jogadores - compreendido como sendo ao redor de £2 milhões (quase US$ 4 milhões) ao ano, não se tratando do mais alto de Upton Park - e, então, se chegasse uma oferta de outro clube para comprá-los por proposta superior à atualmente determinada, o West Ham teria a opção de aquisição de seus direitos das companhias num preço pré-estabelecido. Se o clube não quiser os atletas, os proprietários podem vendê-los durante a próxima janela de transferências. A Premier League argumenta que isto claramente permite aos empresários "influenciar materialmente" a política dos clubes ou o desempenho das equipes, mas a reivindicação do West Ham é que o negócio não é tão bizarro como parece. Integrantes do clube comparam a situação aos acordos normais de empréstimo, por que um clube de empréstimos pode recorrer a um jogador por períodos combinados, ou nos contratos comuns, em que os jogadores têm permissão de partir se houver propostas de clubes por certos valores.
Esse argumento poderia ser utilizado, talvez causando surpresa, pelo Liverpool, onde o diretor geral, Rick Parry, está se empreendendo para prosperar com o acordo original de Mascherano, que é semelhante ao das companhias ligadas ao West Ham. Se uma oferta vier a entrar de outro clube para compra de Mascherano, o Liverpool teria o direito de negociá-la, do contrário, as companhias poderiam vender o jogador nos termos definidos pelo Liverpool e com sua participação nos lucros. O Liverpool, como o West Ham, olham isto como um empréstimo de jogador que não difere radicalmente de outro normal, mas a Premier League insiste na mudança destas transações. Mascherano agora está num acordo de empréstimo das companhias para o Liverpool por 18 meses, e não pode ser vendido neste período.
Os clubes diferem, entretanto, pois o Liverpool pelo menos quis mostrar claramente à Premier League os termos de seu acordo com os investidores; o importante problema do West Ham pode explicar por que eles não fizeram o mesmo. O argumento esperado será por que o West Ham decidiu que seus acordos não quebraram a U18, os dois diretores acreditaram não necessitar expô-los, pois seriam levados a detalhes em conversas e demoras inevitáveis, como fizeram no Liverpool. "Estou muito seguro de que agi de acordo com o conselho legal que nós recebemos à época", Aldridge contou-me, "e que nenhum regulamento foi quebrado".
Magnusson, que ameaçou entrar com uma ação legal contra Aldridge e Brown se o clube for considerado culpado, claramente se prepara para apontar à comissão de normas que teria ocorrido má fé, e isso quando Scudamore e Foster forem intimados, os termos do acordo devem ser expostos.
No meio futebolístico, muitos parecem concordar. O regulamento da Premier League contra influências externas pode não ser suficientemente preciso ao caracterizar "terceiro interessado" em posse de jogadores, mas o West Ham, se considerado culpado por má fé e se não conseguir esclarecer os termos de seus acordos, que espere receber o peso da lei contra si.

(The Guardian, http://football.guardian.co.uk/News_Story/0,,2038879,00.html, 21/03/2007)