Thursday, December 07, 2006

Difícil inquérito para Scotland Yard em Moscou

As investigações sobre o assassinato com substância radioativa de Alexandre Litvinenko passam pela capital russa, mas as autoridades impõem dificuldades

Marie Jégo
correspondente em Moscou

Mal eles chegaram a Moscou, os novos inspetores da Scotland Yard vindos para investigar o envenenamento mortal em Londres do ex-agente russo Alexandre Litvinenko, tiveram de se render às evidências: a sua margem de manobra será limitada.

Não há certeza alguma de que eles possam se encontrar com uma das principais testemunhas, Andrei Lougovoi, um ex-membro dos serviços de inteligência (FSB, ex-KGB), que viajou para Londres três vezes sucessivas, entre o dia 16 de outubro e 3 de novembro, e que esteve reunido com a vítima em quatro oportunidades.

Nos aviões em que este homem viajou, principalmente num vôo Moscou-Londres de 25 de outubro, a polícia britânica encontrou traços de polônio 210, o isótopo radioativo que foi detectado em grande quantidade no corpo de Alexandre Litvinenko (cem vezes superior à dose mortal).

Vestígios de polônio também foram encontrados na terça-feira, 5 de dezembro, no estádio Emirates Stadium de Londres onde Andrei Lougovoi e os seus dois parceiros, Dmitri Kovtoun e Alexandre Sokolenko, haviam assistido a uma partida de futebol (Arsenal-CSKA Moscou), em 1º de novembro. Os três homens estiveram reunidos com Alexandre Litvinenko pouco antes de este sentir os primeiros sintomas do envenenamento.

"Opositores que devem ser eliminados"

Andrei Lougovoï, que está sendo submetido nesse momento a testes no hospital, se disse disposto "a responder a todas as perguntas que interessarem a Scotland Yard", segundo informou a agência Itar-Tass. Mas, conforme explicou o procurador-geral da Rússia, Iuri Tchaika, são os médicos que decidirão sobre a viabilidade deste interrogatório.

Durante uma coletiva de imprensa em Moscou, na terça-feira (5), o procurador-geral lembrou os limites do inquérito. Conformemente às práticas do direito internacional, as autoridades russas irão cooperar com a Scotland Yard, mas elas manterão o controle sobre as investigações e não extraditarão nenhum suspeito para a Grã-Bretanha.

O interrogatório de uma outra testemunha, Mikhail Trepachkin, que queria ser ouvido, não poderá ser realizado. Este antigo agente do FSB cumpre atualmente uma pena de prisão num campo do Oural. Por intermédio dos seus advogados, Mikhail Trepachkin informou ter avisado Alexandre Litvinenko, quatro anos atrás, de que o seu nome constava de uma lista de opositores que deveriam ser eliminados.

"Os serviços penitenciários russos não permitirão que nenhum condenado por divulgação de segredos de Estado continue sendo uma fonte de informação para os representantes de serviços especiais estrangeiros", replicou na terça-feira o porta-voz da administração penitenciária, Alexandre Sidorov.

Um antigo investigador do FSB, Mikhail Trepachkin tornou-se advogado no final dos anos 90. Os seus problemas começaram no dia em que ele decidiu defender Aliona Morozova, uma jovem mulher cuja mãe e o namorado morreram na explosão de origem criminosa que, em setembro de 1999, destruiu um prédio, na Rua Gourianova em Moscou. Aliona Morozova, que obteve o asilo político nos Estados Unidos em 2005, está convencida do envolvimento do FSB na explosão.

Mikhail Trepachkin, que também defende esta tese, foi preso em 2003. Após ter sido liberado em seguida, ele voltou a ser preso alguns meses mais tarde. Julgado por ocasião de um processo de portas fechadas em maio de 2004, ele foi condenado a quatro anos de prisão.

Tradução: Jean-Yves de Neufville

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(UOL, Mídia Global, http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2006/12/07/ult580u2264.jhtm, 07/12/2006)