Sunday, October 29, 2006

Brown pode manchar a reputação do West Ham

Amy Lawrence
The Observer
Há alguns anos, Woody Allen, fez o roteiro do filme Melinda e Melinda, que trouxe como seu ponto de partida um transtorno envolvendo a heroína, a partir daí, contou duas versões de sua história, uma comédia e uma tragédia. Uma cheia de coincidências felizes e brincadeiras leves, e a outra repleta de má sorte e acidentes infelizes.

Eu não tenho a mínima idéia se Terence Brown é fã de Woody Allen ou não, mas está tentando retratá-lo com o caráter de Melinda, nesse dia fatídico de agosto, com a aproximação do prazo final para a transferência. Aí está ele, o presidente que não é querido, de um clube de futebol simples e crescentemente inconstante, quando surge o drama na forma das interferências de Carlos Tevez e Javier Mascherano. Repentinamente, Brown e seus camaradas do conselho, são confrontados com as duas estrelas prodigiosas da Argentina e um iraniano, que fala como se tivesse grandes idéias.
A história feliz se encerra assim. Tevez e Mascherano chegam trazendo um furação de publicidade e levam o West Ham até o mais brilhante faturamento, dando-lhe classificação instantânea. Brown e Kia Joorabchian toleram tudo, numa batalha de sabedoria antes de o caso ser resolvido, apertam as mãos e vivem prósperos e felizes para sempre. West Ham torna-se imensamente popular, capaz de roubar o melhor negócio de Peter Kenyon ' de possuir Londres', e além. Ganham troféus de reconhecimento internacional, e Alan Pardew é chamado para salvar a equipe nacional da Inglaterra da estagnação. West Ham mais uma vez ganha a Copa do Mundo.
O conto de fadas transforma-se rapidamente em azar. Tevez e Mascherano são aturdidos e a equipe começa a desandar. A determinação de Pardew em seu trabalho entusiasmado, que era uma marca do West Ham, desagrega-se, acabam os gols e a conseqüência é uma série de derrotas consecutivas. Brown e Joorabchian se tratam com uma crescente frieza. Pardew é pego num turbilhão de incertezas e o jogo parece melhorar quando Brown entrega o voto cerimonial de confiança.
Deixe-nos retornar ao começo, por um momento. Primeiro, quando Joorabchian trouxe uma oferta da MSI a diretoria do West Ham, uma coisa estava clara: era uma suposta situação de vitória. Quaisquer que fossem seus motivos nenhum dos protagonistas poderia imaginar que a história iria dar tão horrivelmente errada.
Mesmo quando as primeiras suspeitas foram levantadas sobre o envolvimento da MSI e a colocação dos argentinos em Upton Park foi compreendida como sendo uma forma de adoçar uma proposta de compra; o pior, que ninguém esperava, é que esse West Ham ficasse parado. Ir para trás não estava no script. Perder oito jogos seguidos - na temporada mais fraca do clube em 74 anos - não constava do roteiro.
Como Pardew disse naquele momento: 'Você não refuta a possibilidade de assinar com dois jogadores de nível internacional. Lendo as entrelinhas, havia uma aceitação de que, ainda que fossem vendidos dentro de um ano, o negócio teria a acrescentar, a curto prazo, qualidade à equipe e, a longo prazo, brilho à imagem do clube.
A parte mais triste para o West Ham, é que com esta experiência ele está correndo o risco de fazer o contrário e corromper a reputação do clube. Ao invés de aumentar sua projeção global será que o West Ham vai ser rotulado como o clube pequeno que foi um desastre para Tevez e Mascherano?
E agora, noticia-se que Joorabchian está negociando para trazer outro sul-americano, Carlos Alberto, para Londres, no período de transferências em janeiro. Tem lógica, considerando quão deslumbrante foi o impacto da primeira remessa de talentos latinos do Corinthians.
Porém, talvez seja loucura julgar o desempenho dos argentinos até o momento. Os treinadores, tais como o senhor Alex Ferguson e Arsene Wenger,habitualmente dão um prazo de tolerância aos contratados estrangeiros de seis meses de adaptação, até que eles estejam capazes de mostrar seu verdadeiro valor no futebol inglês. Mascherano jogou só em três partidas da Premiership, e Tevez, em duas.
Pardew já recebeu um voto de confiança para lidar, rigidamente, com os problemas que foram impingidos a ele. Se ele pode ou não sobreviver a esta tempestade, ele está na extraordinária posição de supervisionar uma falta de forma pavorosa, sem que a menor calúnia seja arremessada na sua direção.
Não seria possível, entretanto, que talvez, somente talvez, os problemas do West Ham não fossem inteiramente influenciados pela situação de controle do clube, ou por dois grandes jogadores internacionais da equipe, conforme foi descrito nos jornais, no momento, como ”uma jogada arriscada” e “a presa do dia” e razão para que os “torcedores Hammers dancem no Green Street”?

Não é plausível que os problemas do West Ham sejam mais prosaicos? Eles podem ser algo tão banal quanto uma epidemia de segunda-temporadite? Não seria a primeira vez que uma equipe promovida terminou a primeira temporada com grandes conquistas na liga principal, fracassando na segunda.
O West Ham teve uma importância muito grande na última temporada e deu uma notável contribuição à FA Cup. Desta vez, ao contrário, seus jogadores principais tiveram um fraco desempenho. A contusão sofrida por Dean Ashton, na pré-temporada, provocou uma baixa que deve ser sentida, afetando a confiança do capitão nigeriano Reo-Coker e de Anton Ferdinand, na defesa, tendo sido um problema maior do que qualquer coisa que Tevez e Mascherano fizessem ou que não trouxessem ao grupo.
Um aparte cômico da trama principal ocorrida na semana passada, na manhã seguinte em que o Chesterfield colocou o West Ham para fora da League Cup, quando alguns torcedores do clube, que tinham ingressos, foram proibidos de assistir às próximas duas competições, em casa, porque foram pegos se enfrentando em partidas recentes. Na conjuntura, isto é uma confusão, se o técnico tiver apoio vociferante durante a partida de hoje, contra o Blackburn, enquanto o clube ativamente está minando esse apoio.
A reação encheu os websites dos fãs, esboçando ultraje geral, antes um Hammer conhecido como locomotiva ousada. 'Eu espero que tenha sido proibido', escreveu. 'Eu posso dar um tempo deste lixo.'

(The Guardian, http://football.guardian.co.uk/Columnists/Column/0,,1934531,00.html, 29/10/2006)