Sovietic News

Monday, April 18, 2005

Nuvem de segredos

Por 52 milhões de dólares o tradicional clube brasileiro SC Corinthians Paulista comprou grandes jogadores da Europa e da Argentina. De onde vem o dinheiro bendito, contudo, os investidores não podem desprezar. A Promotoria Pública desconfia da Máfia Russa - e por causa de lavagem de dinheiro, está averigüando.

O jovem iraniano, com a camisa de seda aberta, age estranhamente na tribuna de honra do Estádio do Pacaembu, o local de jogo do SC Corinthians em São Paulo. Futebol não é seu mundo, no intervalo Kia Joorabchian, 33 anos, prefere se juntar mais às modelos e aos ricaços emergentes na metrópole de dez milhões de pessoas.Mesmo assim o público o exaltava alegremente. "Kia, Kia, Estádio, Estádio!", gritam os fãs quando ele se deixa ver durante um jogo - em inglês, porque Joorabchian só fala umas poucas palavras em português. Eles exigem um estádio novo, que lhes foi prometido.

Desde o final do ano passado, o esperto "yuppie" domina o segundo mais popular clube de futebol do Brasil. Joorabchian comprou uma série de jogadores de elite, e, com sua ajuda, o Timão se tornou um super time, pois o iraniano é considerado um "gnomo corintiano" pelos torcedores, que querem ser campeões brasileiros: os Argentinos Carlos Tevez (Boca Júnior) e Sebastián Domínguez (Newell's Old Boys), como também os brasileiros, Carlos Alberto (FC Porto), Roger (Benfica Lisboa) e Gustavo Nery (Werder Bremen).

Mais recentemente, Joorabchian contratou o ex-treinador Daniel Passarella da seleção nacional Argentina.

Os US$52 milhões de investimento no novo pessoal, - sozinho o galáctico Tevez teria custado US$ 22,5 milhões -, inverteram a tendência na queda da qualidade do campeonato nacional brasileiro, que sofre com o mal crônico dos clubes durante a última década: as equipes mal chegam ao final de cada temporada e seus melhores talentos deixavam o país, atraídos pelos ricos clubes europeus. Agora, a indústria do futebol registra com surpresa que o SC Corinthians busca os profissionais da Europa ou importa estrelas da Argentina.

O dinheiro parece não ser nenhum problema, porque Joorabchian opera com o capital da empresa Media Sport Investments (MSI), que entrou como sócia empresarial no Corinthians. Estranhamente, Kia Joorabchian não quer dizer de onde vêm os milhões da MSI: "Os investidores não gostariam de ver seus nomes na imprensa". Este repentino "dinheiro bendito" – pois até o final do ano Joorabchian deseja por mais US$40 milhões na "globalização do Corinthians" - , está despertando o interesse da Promotoria Pública.Investigadores de uma tropa especial para combater o crime organizado rastrearam o dinheiro em New York, no Caribe, no Reino Unido e no Cáucaso. Eles têm a suspeita de que os milhões vêm da Máfia Russa.

"A transferência de estrelas de futebol é ideal para a lavagem de dinheiro", diz o Promotor Público José Reinaldo Guimarães Carneiro. "Com o monopólio de jogadores, a origem dos milhões pode ser facilmente apagada". Estaria o Corinthians, clube de tradição Brasileira, favorito do Presidente Lula da Silva e de milhões de brasileiros, arruinando-se como uma agência de troca de dólares sujos da antiga União Soviética? Os sinais indicam isto. O Brasil e Argentina se oferecem para transações obscuras: a maioria dos clubes está em dificuldades financeiras, os funcionários das associações suscetíveis a negócios obscuros. A justiça funciona lentamente e com dificuldades, as leis para a proteção anti-lavagem de dinheiro não são suficientes."

Para Russos ricos que querem limpar seus milhões e que estão interessados em futebol, o passo para a América do Sul é pura lógica", diz o respeitável jornalista desportivo Juca Kfouri. "Como "gangsters", os novos investidores caem em cima do Corinthians", reclama o vice-presidente Antonio Roque Citadini, o líder da oposição interna.

Os promotores públicos estão interessados, acima de tudo, em uma das viagens dos dirigentes do Corinthians, em agosto de ano passado. Joorabchian organizou a comitiva. O velho patriarca do clube, Alberto Dualib, 80 anos, teve os participantes escolhidos a mão. Em Londres, eles comeram magnificamente com o bilionário russo Boris Berezowski, que a princípio rejeitou uma participação financeira, de acordo com Joorabchian: "Ele está interessado, talvez participe mais tarde." Afinal de contas, Berezowski prometeu construir um estádio novo para os corinthianos.

Além disso, o oligarca apresentou a delegação co-brasileira ao georgiano e sócio de negócios - contra quem existe um mandado de prisão em Moscou -, Badri Patarkatsischwili, um bilionário entusiasta de futebol, a quem pertence a metade da Geórgia e também entre os negócios o recordista Dynamo Tiflis. Com o jato particular de Berezowski a comitiva voou de Londres para o Cáucaso.

Várias vezes, os dirigentes do Corinthians se encontraram com Patarkatsischwili nessa residência luxuosa, denominado Palácio de Casamento. Inicialmente, eles fecharam um acordo com Dynamo Tiflis a respeito da troca de jogadores, pois Patarkatsischwili também está interessado em um "investimento futuro" no clube de tradição sul-americana, enfatiza Joorabchian.

Alberto Dualib, o presidente do Corinthians, está entusiasmado com os novos amigos. "Eles nadam no dinheiro", exaltou ele depois de seu retorno. Joorabchian prometeu para ele uma injeção milionária de recursos para cobrir a enorme dívida do clube, se ele aceitasse a MSI como sócia. Ele transformará o clube em uma variante sul-americana dos “Galácticos” do Real Madrid, prometeu o iraniano. Contra resistência na direção do clube, Dualib lutou pelo contrato. Desde então, o clube está dividido em duas partes irreconciliáveis.

Conselheiro do Corinthians, Romeu Tuma, ex-parlamentar e ex-chefe da Interpol de São Paulo, colocou o serviço secreto contra a misteriosa companhia. Ele enviou à Promotoria um dossiê com 3000 documentos sobre os supostos investidores. "Todos têm contatos com a Máfia", pensa ele.

Enquanto isso, os Promotores Públicos traçaram um quadro singular sobre o objeto empresarial da MSI. Eles crêem que as empresas com dinheiro quente vêm da Europa Oriental, Rússia ou do Cáucaso, comprando os profissionais de futebol para o Corinthians, os quais só jogam alguns meses lá para serem vendidos novamente. Até mesmo se a MSI alcançasse um valor menor na revenda, seria um excelente negócio: Na transferência, o dinheiro sujo seria trocado por dinheiro limpo, dólar ou Euro. O destino atual dos jogadores do Corinthians é a Europa, de acordo com o Promotor Público Guimarães Carneiro.
O fim poderia ser o FC Chelsea que pertence a outro conclave russo: Roman Abramowitsch, um ex-sócio empresarial de Boris Berezowski.
O super jogador "Carlitos" Tevez, como informa o jornal "O Estado de S. Paulo", deverá ser trocado até o próximo ano com o Chelsea. Joorabchian teria acertado o retorno do jogador brasileiro Vágner Love do CSKA.

109 BRASILEIROS JOGAM NA LIGA PRINCIPAL EUROPÉIA
ESPANHA – Primeira Divisão – 28
ALEMANHA – Liga Principal – 26
FRANÇA – Primeira Liga – 25
ITÁLIA – Séria A – 24
INGLATERRA – Primeira Liga – 6


DE MOSCOU PARA SÃO PAULO.
Abramowitsch, que no final de 2004 com seu iate "Le Grand Bleu" ancorou por dias na baía de Rio de Janeiro e se deixou escoltar em um passeio pelo país por ex-agentes da KGB, como grande benfeitor do antigo Clube Desportivo do Exército CSKA.
A Promotoria Pública suspeita então que o Corinthians serve como estação de transferência dentro do império de Abramowitsch. Joorabchian afirma, pelo contrário, não ter "nenhuma ligação com Abramowitsch".O presidente do Corinthians, Dualib, desmentiu ao ser interrogado pelo Promotor Público que oligarcas da antiga União Soviética estivessem por trás da suspeita MSI.
O "ENGANO" - Após a viagem para Tiflis ele havia chamado Berezowski e Patarkatsischwili de sócios - sendo conduzido a um engano de interpretação. Contudo, as indicações de que pudesse ser diferente são consideráveis.O iraniano Joorabchian já agiu uma vez como um testa de ferro para um grande investidor russo: há seis anos ele comprou o jornal russo "Kommersant" por ordem de Boris Berezowski. Desde então, Berezowski tem confiança nele como um grande talento empresarial.
Filho de uma família de exilados que depois da queda do Xá (Reza Palevi) tinha fugido para a Inglaterra, possuindo um passaporte britânico; em Londres ele está registrado como sócio de nove empresas. O certo é que ele estudou Química e Economia e lidava com limusines Mercedes na empresa de seu pai.
No contato com o Corinthians, produziu, como uma cintilante figura do meio futebolístico brasileiro, Renato Duprat. O arrojado empresário, um ex-sócio empresarial do herói nacional Pelé, que supostamente tem enganado mil investidores numa seguradora de saúde (Unicor) somente para obter o dinheiro deles, e então refugiou-se em Londres onde conheceu Joorabchian. Antes o iraniano tinha tentado entrar no negócio com outros clubes, porém sem sucesso.
Hoje, Joorabchian reside no décimo andar de um edifício da mais nobre região de São Paulo. A empresa MSI comprou quase o andar inteiro. O executivo parece constantemente tenso, ele colocou quatro celulares na mesa de conferência. Ele se sente perseguido pelos opositores da parceria com o Corinthians.
"Isso é um pequeno grupo, que conduz uma campanha política contra mim". A propósito, as investigações da Promotoria Pública contra ele seriam "completamente ilegais".
No fundo, ele crê que na competência da Polícia Federal: "Mas não existe nada contra mim". A MSI do Brasil foi estabelecida especificamente para a transação com o Corinthians, o capital inicial, por engano, foi somente de R$1000,00 (mil reais), aproximadamente 300 Euro. Os donos são três off-shores sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas e em Londres.
Como gerente foi designado um brasileiro, que confessou diante do Promotor Público que não tem nenhuma idéia de onde vem o dinheiro para os negócios da MSI. "Ninguém entende a contabilidade desta companhia", diz o Promotor Guimarães Carneiro.
A transação mais importante do MSI foi a compra do cortejado argentino Tevez, atleta cujos direitos também pertencem ao Bayern München, envolveu-se numa "nuvem de segredos", de acordo com o Promotor Público. Segundo Joorabchian, a empresa adquiriu o jogador por US$22,5 milhões, porém no contrato a soma legítima é de somente US$16 milhões.
O dinheiro veio de várias empresas de off-shore e foi depositado em uma conta do Boca Juniors na agência de um banco canadense na cidade de New York.
Um empresário iraniano amigo de Kia liberou o dinheiro por e-mail - assim a origem dos milhões pôde ser apagada facilmente. Entretanto, a transferência mais cara da história do futebol brasileiro provavelmente infringe leis contra lavagem de dinheiro, pois toda remessa deveria ser registrada no Banco Central brasileiro.
Na direção do clube surge agora a crescente desconfiança contra a MSI e o iraniano, pois os supostamente ricos investidores informam aos empregados do clube que teriam pago prontamente só pela compra de jogadores. Até agora o clube espera ansiosamente pelos pagamentos prometidos para as despesas correntes.
Joorabchian, por seu lado, desmente que a empresa tenha gasto aproximadamente US$7 milhões em salários e despesas. Assim como surpreendentemente é o fato de, no começo do ano, o jogador brasileiro Gustavo Nery só ter sido adquirido em empréstimo do Werder Bremen para São Paulo. Os Hanseaten requereram aproximadamente US$1,5 milhão de dólares uma soma que os corinthianos não queriam pagar. Agora, no verão, deverá ser negociado novamente.
Aparentemente Joorabchian confia que a gigantesca torcida corinthiana tire seus olhares dos negócios obscuros voltando-se para as novas contratações de jogadores para o clube se fizerem muitos gols e conquistarem a Copa do Brasil.Aparentemente despreocupado das acusações, o iraniano planeja agora um novo golpe: esteve semana passada em conversações no Rio de Janeiro com a diretoria do Clube de Regatas Flamengo, o mais popular no futebol do Brasil.
Se a MSI também adquirir o Rubro-Negro, que está em difícil crise de jogadores e de finanças, Joorabchian e seus sócios desconhecidos teriam posse dos dois clubes mais importantes do Brasil - e o negócio com as transferências de jogadores poderia ser dobrado.

Jens Glüsing

(DER SPIEGEL, “Wolke von Geheimnissen”, http://www.spiegel.de/, 18/04/2005)