Sovietic News

Wednesday, May 23, 2007

Putin se recusa a extraditar suspeito no Caso Litvinenko


Impasse diplomático depois que a Promotoria da Coroa decidiu que empresário deve responder à acusação
Ian Cobain, Luke Harding, em Moscou e Will Woodward
The Guardian
As relações entre Londres e Moscou caíram a seu nível mais baixo em quase 20 anos, ontem, depois que a Rússia se recusou a entregar um empresário acusado de envenenar o ex-agente da KGB, Alexander Litvinenko.
O Serviço da Promotoria da Coroa disse que a polícia tinha reunido evidências suficientes para justificar a acusação contra Andrei Lugovoi por assassinato e exigir a sua extradição para ser julgado por um crime "extraordinariamente grave". Um porta-voz de Tony Blair disse: "Assassinato é assassinato: isto é um caso muito sério."
Mas em uma resposta rápida, a Rússia disse que não havia nenhuma possibilidade de Lugovoi ser enviado para um julgamento na Grã-Bretanha, e advertiu de uma reação política. Marina Gridneva, porta-voz da Procuradoria Geral Russa, disse: "Sob a lei russa, um cidadão russo não pode ser entregue a países estrangeiros."
Lugovoi falou à TV estatal russa e ao noticiário do Canal 4 ontem, reiterando que ele não teve nada a ver com morte de Litvinenko. "Posso dizer que estou absolutamente tranqüilo, assim como, sou totalmente inocente", disse ao Canal 4. “Eu tenho certeza que não matei Litvinenko. Além do mais, estou plenamente e profundamente convencido que a justiça britânica não tem nenhuma evidência. Eu também não entendo como eles podem alegar que eu teria motivos, e se não há nenhum motivo, é difícil de se imaginar que tenham um caso." Disse que a decisão de acusá-lo era "política".
O Kremlin também refutou as repetidas afirmações de amigos de Litvinenko sobre quem estaria por trás do seu assassinato.
Mas a Segurança Britânica e as agentes de inteligência acreditam que antigos, e talvez atuais, agentes do estado russo estejam por trás do assassinato. Eles disseram que só uma instituição de estado pode produzir Polônio-210, o produto refinado, altamente radioativo, usado para envenenar Litvinenko.
A decisão de pedir a extradição de Lugovoi foi prognosticada pelo The Guardian,em janeiro. Desde então, existem diversas discussões sobre mudanças no comitê britânico Cobra, convocado só em casos de emergência, constituído por membros do governo e líderes dos serviços de segurança da Grã-Bretanha.
Peter Ricketts, secretário permanente do Ministério das Relações Exteriores, chamou o embaixador russo, Yuri Fedotov, para uma reunião ontem pela manhã. Margaret Beckett, Ministra das Relações Exteriores, disse mais tarde: "Este foi um crime grave. Nós estamos investigando e esperamos plena cooperação das autoridades russas para que o responsável possa ser julgado pela justiça britânica. Estes pontos foram firmemente colocados ao embaixador russo quando este foi chamado ao Ministério das Relações Exteriores."
O Ministério das Relações Exteriores acredita que pode continuar a cooperar com a Rússia em outras questões. "Trabalhamos próximos a eles em ações internacionais, como no Iraque e em mudanças climáticas", disse uma porta-voz. Mas neste "crime sério... nós esperamos a cooperação da Rússia", disse.
O pedido de extradição está para ser enviado a Moscou nos próximos dias.
Então Downing Street deu sua resposta formal - e ontem a Procuradoria russa não fez comentários – isto é o que importa. A Rússia assinou a Convenção Européia sobre extradição em 2001. "Sendo a Rússia ou outro país há certas obrigações legais para as nações", disse o porta-voz oficial de Tony Blair. "Vamos ver qual é a resposta legal."
A acusação de assassinato veio em um momento em que as relações entre a Grã-Bretanha e a Rússia estão desgastadas. Num discurso no ano passado, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin expôs suas metas de política externa e pediu um fortalecimento das relações com os "principais" países da Europa, a Itália, a França, a Alemanha e a Espanha. A Grã-Bretanha não foi mencionada. Alguns meses antes, o FSB, Serviço de Federal de Segurança, acusou quatro diplomatas britânicos de espionagem.
O Kremlin também está zangado com o fato de a Inglaterra ter dado refúgio a Boris Berezovsky, uma pessoa influente dentro do Kremlin na gestão do ex-presidente Boris Yeltsin, e que se desligou do governo com a ascensão de Putin, fugindo para a Grã-Bretanha em 2000. No mês passado, Berezovsky disse numa entrevista ao The Guardian que ele estava engendrando um golpe para derrubar Putin, provocando o Kremlin a reiterar suas tentativas de extraditá-lo para Moscou.
Gleb Pavlovsky, um consultor de Putin, disse: "'Uma situação em que a Grã-Bretanha não nos entrega Berezovsky, mas pede que pessoas ligadas a Berezovsky sejam entregues, definitivamente não despertará entusiasmo em Moscou. Se esta história prosseguir irá prejudicar seriamente a postura da elite russa com relação à Inglaterra e a Londres. Londres está tentando criminalizar a imagem da Rússia".
Outros analistas advertiram sobre uma possível reação na Rússia contra o Reino Unido. Boris Makargenko, diretor do Centro de Política e Tecnologia de Moscou, disse: “Eu espero que não haja uma histeria anti-britânica, mas tenho certeza de que algumas pessoas irão dizer que os bretões estão conspirando contra a Rússia. É inevitável, a Rússia não vai extraditar Lugovoi.”
Litvinenko, 43 anos de idade, era um refugiado político que tinha conseguido cidadania britânica, tratava-se de um crítico do Kremlin, o qual ele acusou de estar por trás da onda mortal de bombardeios aos apartamentos periféricos, há oito anos, que adicionou combustível para um renovado apoio ofensivo contra os separatistas chechenos.
Ele foi envenenado durante uma reunião em um bar do Hotel Millennium, em Mayfair, no dia 1º de novembro, morrendo 22 dias depois. Horas antes de morrer, cientistas que trabalhavam ao lado de detetives da Scotland Yard descobriram que ele tinha ingerido uma imensa dose de Polônio-210, um raro isótopo radioativo.
Uma substância inodora e incolor, que não pode ser detectada por scanners de radiação nos aeroportos, o Polônio-210 foi aparentemente escolhido como a arma mortal porque as possibilidades de sua detecção eram muito pequenas, mas, uma vez descoberto na urina de Litvinenko, a Scotland Yard estava apta a mapear um quadro detalhado de cada passo que o assassino tomou antes e depois do assassinato.
Isto levou a Promotoria da Coroa (CPS) a concluir que havia evidências suficientes para acusar Lugovoi de assassinato. Ken Macdonald, diretor da CPS, disse ontem: "Eu concluí hoje que as evidências enviadas para nós pela polícia são suficientes para acusar Andrei Lugovoi pelo assassinato de Litvinenko por envenenamento intencional...
Instruí os advogados da CPS a tomar medidas imediatas para pedir a pronta extradição de Andrei Lugovoi da Rússia para o Reino Unido, de modo que possa ser acusado de assassinato, e seja rapidamente trazido a um Tribunal em Londres".

Rússia se Recusa a Extraditar Acusado de Assassinar Litvinenko


Por Andy McSmith

Autoridades em Moscou disseram ontem que não vão entregar o homem acusado de assassinar o ex-agente da KGB, Alexander Litvinenko, em Londres, em novembro passado, uma posição que esfria ainda mais as relações entre Londres e a Rússia.
Andrei Lugovoy, que se encontrou com Litvinenko no dia em que ele foi envenenado com a substância radioativa Polônio-210, negou o assassinato, alegando que as acusações são motivadas politicamente. "Eu não matei Litvinenko, não tenho relação alguma com a sua morte e a única coisa que eu posso expressar é a desconfiança baseada nas, assim chamadas, 'provas' coletadas pelos oficiais da justiça Britânica", disse ele ontem.
Mas Ken McDonald, o Procurador do Ministério Público britânico, anunciou que a Polícia Metropolitana tinha evidências suficientes para acusar Lugovoy por "envenenamento premeditado". O seu pronunciamento foi apoiado por Lorde Peter Goldsmith, Procurador-Geral britânico, que confirmou que o governo do Reino Unido vai pedir imediatamente a extradição de Lugovoy. Yuri Fedotov, embaixador russo no Reino Unido, foi chamado ao Ministério das Relações Exteriores pela ministra de Exteriores britânica, Margaret Beckett, a qual afirmou que a Inglaterra espera da Rússia "plena cooperação". Mas a Procuradoria Geral da Rússia disse que qualquer russo acusado pelo assassinato de Litvinenko deve ser julgado na Rússia. "Cidadãos russos não podem ser entregues a países estrangeiros", disse Marina Gridneva, porta-voz da procuradoria-geral. "Um cidadão que cometeu um crime em território exterior pode ser culpado pelas acusações, mas só em território russo".
As relações entre a Rússia e o Reino Unido têm esfriado desde que a Inglaterra se recusou a extraditar Boris Berezovsky, magnata russo, e Akhmed Zakayev, líder checheno, os quais vivem em asilo político no Reino Unido, depois de cairem em desgraça no governo do Presidente Vladimir Putin.
Os juízes britânicos determinaram que não seria possível qualquer destes homens receber um julgamento justo na Rússia.
Dissidentes russos na Inglaterra alegaram que o Kremlin está protegendo os assassinos de Litvinenko porque, tanto a FSB (antiga KGB), serviço secreto russo, como até o próprio Presidente, possivelmente estariam envolvidos.
Litvinenko morreu aos 46 anos, foi agente da KGB e de sua sucessora a FSB. Ele rompeu com a organização em 1998, quando Putin era o chefe da FSB. O ex-agente acusou os antigos funcionários de conspirar para o assassinato de Berezovsky, que estava usando sua fortuna para financiar grupos civis de direita na Rússia. Litvinenko, uma vez fugindo para o estrangeiro, conseguiu cidadania britânica e acusou a FSB de estar envolvida com atrocidades terroristas até então atribuídas aos separatistas chechenos, para justificar a guerra que Putin estava empreendendo na Chechênia. Na época de sua morte, Litvinenko estava investigando o assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, outra proeminente crítica do tratamento da Rússia com os chechenos.
Ele ficou doente no dia 1º de novembro, depois de ter se encontrado com Lugovoy e outros dois russos para tomar um chá no Hotel Millennium, no centro de Londres. Três semanas mais tarde, Litvinenko faleceu de uma morte longa e dolorosa, numa unidade de tratamento intensivo em Londres. Seu cabelo caiu, a sua pele ficou amarela e seus órgãos desvaneceram ao passo que o envenenamento pelo isótopo foi fazendo efeito. Ele deixou uma mensagem acusando o Presidente Putin de ser o mandante do seu assassinato. Porta-vozes do governo russo desmentiram a acusação, alegando que Litvinenko não era uma figura importante.
A maneira como ele morreu incitou centenas de pessoas a ligar para as linhas do serviço de emergência britânico, temendo estar com os sintomas do envenenamento por Polônio-210. A Polícia descobriu também traços de Plutônio, o que fez com que eles suspeitassem que a substância havia sido contrabandeada no Reino Unido por Lugovoy ou por Dmitri Kovtun, outro empresário russo, que também se encontrou com Litvinenko no Hotel Millennium.
Vestígios da substância foram encontrados no Hotel Millenium; em outros dois hotéis de Londres onde Lugovoy ficou; em três aviões que voaram entre Londres e Moscou; e até mesmo no Emirates Stadium, no norte de Londres, onde Lugovoy foi assistir a uma partida de futebol entre o Arsenal e o CSKA Moscow.
Detetives da Scotland Yard viajaram até Moscou para conversar com Lugovoy e com Kovtun. Ambos alegaram ser potenciais vítimas de envenenamento mais do que agentes envenenadores.
Marina, a viúva de Litvinenko, elogiou ontem os detetives da Scotland Yard que investigam o caso. Ela acrescentou: "É importante para mim que meu marido não tenha morrido em vão e que os responsáveis pelo seu assassinato sejam levados à justiça no Reino Unido. Eu quero que meu filho saiba que a morte do meu marido não foi por nada".
Ela também revelou que o embaixador russo tinha pedido para vê-la e reconhecido que o acontecimento estava prejudicando interesses da Rússia. "Eu sugeri ao embaixador que a melhor maneira de restaurar a reputação da Rússia era cooperar plenamente com o pedido de extradição", disse ela à BBC.
Akhmed Zakayev , líder checheno exilado, disse: "Alexander Litvinenko e eu éramos amigos íntimos e vizinhos. Seu assassinato brutal foi uma tragédia terrível. Espero que a publicação de hoje faça com que o assassino de Sasha seja trazido a justiça".

Britânicos acusam russo de envenenar ex-agente da KGB


Alan Cowell e Steven Lee Myers*
Em Londres

As autoridades britânicas acusaram na terça-feira um empresário russo, Andrei K. Lugovoi, de assassinar Alexander V. Litvinenko, o ex-agente da KGB e adversário do Kremlin que foi envenenado há seis meses em Londres com um isótopo radioativo, o Polônio 210.

A morte de Litvinenko foi um dos casos mais emocionantes desde a Guerra Fria, com a polícia seguindo o rastro da contaminação nuclear de Londres a Moscou. Lugovoi é o primeiro a ser formalmente acusado no caso. A natureza precisa da evidência contra ele não foi divulgada na terça-feira, apesar dos investigadores terem ligado ele e um associado, Dmitri V. Kovtun, a vestígios nucleares encontrados em hotéis de luxo e escritórios de Londres a Hamburgo, Alemanha, assim como em aviões da British Airways com destino a Moscou. Ambos negaram ter matado Litvinenko.

O Serviço de Promotoria da Coroa do Reino Unido disse que buscará a extradição de Lugovoi, um ex-guarda-costas da KGB que é dono de uma empresa de segurança e outros negócios, de Moscou. Mas o procurador-geral da Rússia descartou a extradição, sugerindo que o Reino Unido lhe entregue os documentos para um julgamento na Rússia. O gabinete do procurador-geral russo também está investigando a morte de Litvinenko.

Lugovoi, que proclamou sua inocência na terça-feira, conhecia Litvinenko há muitos anos. Ambos trabalharam em Moscou nos anos 90 para Boris A. Berezovsky, o magnata russo auto-exilado que vive em Londres e que já esteve entre os homens mais ricos e poderosos da Rússia.

Litvinenko, 43 anos, morreu em 23 de novembro de 2006, após semanas de um mal debilitante. Ele adoeceu em 1º de novembro, o dia em que se encontrou com Lugovoi e Kovtun no Pine Bar do Millennium Hotel, em frente à embaixada americana na Grosvenor Square, em Londres. No encontro, Litvinenko bebeu chá, ao qual seus associados disseram ter sido adicionada uma pequena dose de polônio.

A acusação de assassinato não menciona Kovtun ou um motivo possível. Em seu leito de morte, Litvinenko acusou o presidente Vladimir V. Putin de ser o responsável pelo seu envenenamento - uma acusação que o Kremlin considerou ridícula.A acusação britânica provavelmente tornará ainda mais tensas as relações entre o Reino Unido e a Rússia, já desgastadas pela recusa britânica em extraditar Berezovsky, que foi o principal empregador de Litvinenko até meados de 2006. Berezovsky não quis comentar na terça-feira.

Sir Ken Macdonald, o diretor de processos do Reino Unido e líder do Serviço de Promotoria da Coroa, um órgão oficial que avalia as evidências policiais antes da denúncia, disse que o serviço "considerou cuidadosamente" o inquérito policial que lhe foi apresentado no final de janeiro, após dois meses de investigações lideradas por Peter Clarke, o chefe da polícia antiterrorismo do Reino Unido.

"Hoje eu concluí que as evidências que nos foram apresentadas pela polícia são suficientes para indiciar Andrei Lugovoi pelo assassinato de Alexander Litvinenko por envenenamento deliberado", disse Macdonald em uma declaração. "Eu concluí que a denúncia deste caso certamente será do interesse público.

"Ele chamou a morte de Litvinenko de "crime extraordinariamente grave". Alguns dos associados de Litvinenko expressaram surpresa por apenas uma pessoa ter sido acusada."Eu estou quase em um estado de descrença por apenas Lugovoi ter sido acusado, e não um grupo de pelo menos três pessoas", disse Yuri Felshtinsky, um associado de Berezovsky e autor com Litvinenko de um livro de 2002, "Blowing Up Russia".

"Apenas o serviço secreto russo poderia ter executado este golpe com material nuclear em solo britânico", ele disse em comentários distribuídos por sua editora. "A mão daqueles ao redor de Vladimir Putin estava claramente visível no assassinato.

"Outros estudos recentes especularam que Litvinenko foi morto por ex-associados vingativos do serviço secreto, por sua possível traição de seus camaradas nos anos 90, quando buscou expor uma suposta corrupção na FSB, a sucessora doméstica da KGB.

Litvinenko se lançou como um denunciador e um cruzado anti-Putin.

Lugovoi não respondeu aos pedidos de comentário na terça-feira. Seu advogado, Andrei M. Romashov, disse que Lugovoi não foi notificado de quaisquer acusações.

Posteriormente, em comentários divulgados pelas agências de notícias russas, ele negou qualquer papel na morte de Litvinenko. "Eu acredito que é uma decisão política", ele disse, segundo a oficial Agência de Informação Russa. Ele expressou "desconfiança das evidências reunidas" pelas investigações britânicas e sugeriu que em breve fará declarações que causarão "sensação entre a opinião pública britânica".

*Reportagem de Alan Cowell, em Londres, e Steven Lee Myers, em Moscou Tradução: George El Khouri Andolfato

(UOL, Mídia Global, http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2007/05/23/ult574u7470.jhtm, 23/05/2007)

Berezovski insiste: 'Putin está por trás do crime'

Berezovski insiste: 'Putin está por trás do crime'
Jamil Chade, de Genebra
O magnata russo Boris Berezovski acredita que o indiciamento do ex-espião russo Andrei Lugovoi é um passo importante para que se descubra quem de fato está por trás do assassinato por envenenamento do ex-agente (e seu amigo) Alexander Litvinenko. 'Lugovoi foi só o agente, não atuou sozinho ou por conta própria', disse Berezovski, por telefone, ao 'Estado'. 'Por meio dessas investigações, para mim está claro que vamos chegar ao verdadeiro responsável pela morte de Litvinenko, que se chama Vladimir Putin', acrescentou.

Falando de Londres, onde vive exilado, Berezovski disse que 'está cada vez mais evidente' que o Kremlin está por trás da morte do ex-espião.

'Uma das provas desse envolvimento é a rapidez com que as autoridades russas afirmaram hoje (ontem) mesmo que não haveria como extraditar Lugovoi. O que estão fazendo não é garantir a proteção de Lugovoi, mas do próprio chefe de Estado russo', disse. Berezovski chegou a ser mencionado como eventual mandante do crime por conhecer Lugovoi desde os anos 90.

O ex-espião agora acusado afirmou ontem que, em breve, faria revelações aos britânicos sobre suspeitos do crime, citando 'certos indivíduos de origem russa' - numa clara referência a Berezovski. Mas o magnata rejeitou qualquer hipótese que não seja a de Putin como mandante do crime. 'Meu amigo Litvinenko deixou uma carta antes de morrer apontando Putin', insistiu. 'Não se compra polônio-210 em uma farmácia e tenho certeza de que as investigações vão mostrar claramente quem forneceu o produto e quem vendeu aos criminosos', disse. Berezovski é velho adversário político de Putin. O governo russo já exigiu sua extradição, recusada pela chancelaria britânica. Há menos de um mês, Berezovski revelou estar disposto a financiar um golpe para depor o presidente russo.
(O Estado de S. Paulo, Internacional, 23/05/2007)

Ex-espião é acusado no caso Litvinenko

Ex-espião é acusado no caso Litvinenko
Grã-Bretanha pede extradição de Andrei Lugovoi pelo envenenamento do ex-agente da KGB morto em 2006; Kremlin nega

Promotores britânicos acusaram ontem o ex-agente da KGB Andrei Lugovoi pelo assassinato de Alexander Litvinenko e exigiram que ele seja extraditado pela Rússia. Litvinenko, também ex-agente da KGB e asilado na Grã-Bretanha desde 2000, morreu no ano passado em Londres após ser envenenado com a substância radioativa Polônio-210.
A chanceler britânica, Margaret Beckett, convocou ontem o embaixador russo em Londres, Yury Fedetov, para comunicá-lo da decisão da promotoria. 'Esse é um crime grave. Esperamos total cooperação das autoridades russas para que o acusado enfrente a Justiça britânica', afirmou a chanceler. A viúva de Litvinenko, Marina, disse estar 'aliviada' com a decisão britânica.
A Rússia, no entanto, já afirmou que a Constituição do país não permite que cidadãos russos sejam extraditados. De acordo com a Promotoria russa, Lugovoi poderia ser julgado na Rússia com as provas obtidas pela Scotland Yard. Desde 2001, o governo russo fez 17 pedidos de extradição ao governo britânico, um deles relacionado ao magnata russo Boris Berezovski, adversário político do presidente russo, Vladimir Putin, e também asilado na Grã-Bretanha desde 2000. Nenhum dos pedidos foi atendido.
A decisão britânica de acusar Lugovoi é mais um capítulo em um caso repleto de intrigas e reviravoltas. Tanto Putin quanto Berezovski já foram citados como possíveis mandantes do crime - Lugovoi e Litvinenko já trabalharam em ocasiões separadas para o magnata russo. Crítico feroz de Putin, Litvinenko denunciou em 1998 um plano do Kremlin para assassinar Berezovski.
O ex-espião foi envenenado em Londres no dia 1 de novembro de 2006, após se encontrar no hotel Millenium com Lugovoi e o empresário russo Dmitri Kovtun. Depois do encontro, Litvinenko almoçou num restaurante japonês com o italiano Mario Scaramella, que teria informações sobre o assassinato da jornalista russa Anna Politkovskaya, crítica do governo russo. Politkovskaya foi morta a tiros em seu apartamento em Moscou em outubro de 2006. Após passar três semanas agonizando em um hospital de Londres, Litvinenko morreu no dia 23 de novembro. Dias antes, o ex-agente escreveu uma carta na qual acusou Putin de ter ordenado o seu assassinato.
Desde o começo das investigações, Lugovoi e Kovtun negaram participação no caso e disseram que foi Litvinenko quem tentou envenená-los. Ambos foram tratados por contaminação por Polônio-210. Após a morte de Litvinenko, a polícia britânica encontrou traços da substância em vários escritórios e hotéis visitados por Lugovoi, e até no avião da British Airways em que ele viajou de volta para Moscou.
Ontem, Lugovoi afirmou que as acusações do governo britânico têm motivação política. Fontes judiciais britânicas afirmaram que os promotores não encontraram provas suficientes para indiciar Kovtun.
Lugovoi disse ontem que fará revelações surpreendentes 'em relação a certos indivíduos de origem britânica em território britânico' - numa referência a Berezosvki. O magnata foi acusado por deputados russos de ter ordenado o assassinato de Litvinenko para prejudicar o governo de Moscou. '
Putin é um criminoso. Ele ordenou pessoalmente o crime', disse Berezovski, em entrevista exclusiva ao repórter Jamil Chade, do Estado.
AP, THE NEW YORK TIMES, THE GUARDIAN E REUTERS
(O Estado de S. Paulo, Internacional, 23/05/2007)

Sunday, May 20, 2007

A Completa Transformação de Mascherano


Após apenas 10 jogos, o Argentino se tornou o meio-campo titular do Benitez - e isto é demais para se acreditar, disse ele a Marcos Christenson
The Observer
No dia 3 de dezembro do ano passado, Javier Mascherano jogou pela última vez com a camisa do West Ham. Alan Pardew deu-lhe seis minutos quando o Everton ganhou de 2-0. O argentino Carlos Tevez, companheiro de equipe e amigo de Mascherano, jogou toda a partida e resumiu assim a atitude do West Ham com relação ao parceiro: Tevez pode ser um jogador muito útil quando ele vai para cima, mas o que nós vamos fazer com um pequeno rapaz que corre de um lado para o outro como um louco no meio de campo?
Na quarta-feira contra o Milan, Mascherano será capaz de mostrar ao mundo por que ele merece jogar, assim como fez para a Argentina na Copa do Mundo, e quando o Liverpool eliminou o Chelsea na semi-final da Liga dos Campeões. Salvo estranho engano, ele foi um gigante naquela noite em Anfield. Perto do fim do jogo, ele enfiou uma bola num chute de 50 jardas depois de dar a vantagem num tiro-livre no campo do Chelsea para tomar sua posição apenas fora da área do Liverpool antes do final tempo regulamentar do jogo. A torcida do time de casa estourou num espontâneo aplauso, e seu desempenho confirmou por que ele passou por cima de Momo Sissoko e Xabi Alonso tornando-se o jogador favorito do técnico Rafael Benitez, ficando com a posição mais importante: meio-campo.
Foi uma transformação e Mascherano atribuiu isto à confiança que Benitez depositou nele. 'Eu não tenho palavras suficientes para agradecer o Rafa', disse. Quando eu realmente precisei de alguém, ele não me deu apenas uma mão, ele me deu um braço. Ele me disse que confiava em mim; isso é fundamental: encontrar alguém na Inglaterra que confie em mim. Eu estava num momento ruim (no West Ham). Estava me sentindo marginalizado, como um ex-jogador.
'O que era mais difícil para encarar era a indiferença. Você se sente péssimo se as pessoas não se preocupam se você está tentando fazer um bom trabalho, se está treinando duro. Por um lado, eu me sentia como se estivesse me empenhando de corpo e alma, mas eu fiquei bastante tempo e isso tinha muito a fazer por minha família, minha esposa e minha filha'.
Nascido em São Lorenzo, num pequeno povoado em Santa Fé, Mascherano foi descoberto por Hugo Tocalli, técnico da seleção argentina sub-20, enquanto jogava para Renato Cesarini. Ele foi chamado para o U15 e ganhou um lugar no River Plate. Mas ele nunca foi morar em Buenos Aires. 'A idéia é que eu volte (a São Lorenzo) quando deixar o futebol. Eu sei que os dias que "perdi", eu vou conseguir de volta quando retornar. Eu não estava acostumado à vida em Buenos Aires. Eu me diverti, mas eu tenho realmente meus bons momentos quando estou em casa. A minha família estará sempre lá. Meu irmão tem uma pizzaria. Eu como pizza e o ajudo a prepará-las, fazendo a massa, todas as vezes em que vou para casa'.
Está claro que Mascherano se sente melhor quando está cercado pelas pessoas em quem pode confiar. No Corinthians, clube ao qual se uniu como parte de um mesmo negócio da Media Sports Investment (MSI), de Kia Joorabchian, que mais tarde levou-o a Upton Park, ele foi visto como muito agressivo. Ele se lembra de ter dito a Tevez que tinha esperanças de os brasileiros entenderem que ele era agressivo, mas perigoso, não'.
Por todo o tempo difícil, no entanto, suas exibições pelas Sub-17, Sub-19, Sub-20 e pela seleção nacional, pela qual ele foi escalado antes de ter jogado sequer um minuto pelo River Plate, dando-lhe confiança de sua capacidade.
Ele foi parte integrante da equipe que acabou em quarto lugar na Copa do Mundo Sub-17, em 2001, eleito o jogador do torneio pelos companheiros de equipe na Copa América, em 2004, e, em seguida, conquistou o ouro Olímpico, em Atenas.
Ambos, Diego Maradona e Benitez, o chamaram de 'um jogador monstro', o ex disse que ele 'tem garra (estilo corajoso) e distribui a bola com grande precisão'.
Alonso, seu companheiro de equipe, disse: 'Ele ainda não fala um inglês perfeito, mas em campo você tem que falar com os seus pés. Ele joga como um jogador de 30 anos de idade. Ele tem cabeça fria. Ele está analisando e pensando sobre o jogo a todo o momento'.
A maturidade de Mascherano é a chave. Com pouca idade, ele partiu para se tornar o completo meio-campo defensivo. 'Quando era criança eu sonhava em ser como o [Marcelo] Gallardo, o magnífico nº 10, o habilidoso, o capitão e o ponto de referência dos lançamentos. Mas eu não teria conseguido, simples assim. Se tivesse todas as suas habilidades eu não poderia ser um jogador de defesa, um nº 5. Eu conheço minhas limitações: primeiramente tenho que marcar os oponentes, então ter a habilidade de distribuir o jogo. Eu não acabaria fazendo nada se tentasse algo mais do que isso'.
Benitez sabia o que ele estava comprando. 'Ele é um vencedor', disse Benitez. 'Tem 22 anos e tem 22 escalações pela seleção: quantos jogadores na Inglaterra foram escalados tantas vezes, e, para um país tão grande assim, nessa idade? É incrível. Eu não tenho dúvida alguma sobre as qualidades e a mentalidade de Javier. Ele pode não ser muito alto, mas é um rapaz forte'.
O jogo contra o Milan será o décimo primeiro de Mascherano com a camisa do Liverpool. Eles não perderam quando ele jogou. Ele está confiante que o Liverpool vai prevalecer em Atenas, mas disse que os acontecimentos de dois anos atrás não terão nenhuma influência no resultado. 'Está é uma nova história', disse. 'O Milan ganhou do United na semifinal com muita autoridade. São clubes tradicionais na Copa Européia, então vai ser uma briga dura.
'Eu espero que seja uma grande final. Temos estilos diferentes de jogo e será uma partida fascinante. Estamos decididos a jogar com um estilo duro como o Chelsea nas semifinais. Foi um empurrão enorme que nós esperamos que nos dê inspiração em Atenas'.
Mascherano está pronto para fazer a sua parte. É o jogador absoluto da equipe, cujo livro favorito quando ele estava na escola foi escrito pelo lendário técnico do LA Lakers, Phil Jackson. 'Gosto dele porque escreve sobre o atletismo, sobre como o grupo é mais importante do que o indivíduo', disse.
Não é de admirar que Benitez goste dele.