Sovietic News

Thursday, October 19, 2006

O golpe dos Blues

-Futebol inglês

O golpe dos Blues

Boris Thiolay, Jean-Paul Guilloteau - L'Express

Do Chelsea ao Manchester United, grandes clubes passam às mãos dos oligarcas russos, magnatas americanos e outros que lidam com coisas das mais diversas. Corrupção, transferências duvidosas, montanhas de dinheiro... É a cultura popular que se encontra ameaçada

Apóiam-se no parapeito metálico, que pende a alguns metros da Brisbane Road, fãs de todas as idades, bebendo e conversando alegres. Ondas de camisas vermelhas fluem rumo ao estádio de Leyton Orient. No bar dos torcedores o fluxo é mais lento. Duas horas antes do início da partida, Malcolm Sanien, 61 anos, e Martin Bickmore, 47 anos, acompanhados de seus respectivos filhos, aquecem-se bebendo muito. Os fiéis entre os fiéis O objeto de seu fervor? Uma posição entre os últimos times da tabela no campeonato da League One, a terceira divisão do futebol inglês, opondo-se diante de 3.500 espectadores a equipe visitante de Chesterfield ao Leyton, bairro popular do extremo leste londrino. Com algumas cervejas de atraso, apesar de uma disputa nula e sem nenhum tento (0 a 0), os quatro companheiros não deixariam seu lugar por nada neste mundo. “O verdadeiro amor ao futebol somos nós!”, afirma Daniel, 21 anos, exibindo em sua camisa o escudo com o lema “Defender o Orient até a morte”. “Dizer-se fã do Chelsea é um prazer vulgar. Mas não há recompensa alguma que se compare em torcer pelo Leyton Orient.”
Chelsea, ou o novo pólo magnetico do futebol inglês. Desde a sua compra, em 2003, pelo oligarca russo Roman Abramovich, detentor da décima primeira fortuna mundial, o clube aninhado em um dos bairros da mais alta roda de Londres anunciou resultados provocativos: dois títulos sucessivos como campeão inglês – pela primeira vez depois de cinquenta anos, e a ambição de ofuscar as maiores equipes européias.
A receita? Fazer do futebol uma máquina registradora girando vinte e quatro horas por dia, mesmo fora das temporadas competitivas.
Diariamente, várias centenas de pessoas visitam Stamford Bridge, a ultramoderna casa dos Blues (o apelido do Chelsea), como se passassem uma tarde na Disneylândia. Após uma parada na megastore para vestir as crianças dos pés à cabeça com as cores do clube (60 euros cada camisa oficial), segue-se a visita.
Durante uma hora, em meio a piadas sarcásticas e ao cinismo peculiar dos britânicos, o guia Trudy enumera os valores essenciais do futebol profissional inglês. E a lista de seus principais patrocinadores. Qual é o principal acessório de um vestiário? “O espelho, porque os grandes jogadores são sobretudo manequins.” A paixão de Frank Lampard, meio-campo símbolo do Chelsea? O seu Aston Martin.
Ao final da visita, Paul, 6 anos, que não perdera nada da palestra, perguntou: “Algum jogador do clube tem um Lamborghini?” Alguns minutos antes, Trudy perguntara ao menino se ele queria jogar no Chelsea e ficar muito rico. “Perfeito. A partir de agora sou o seu agente e tomo 95% de seu salário.”

SUBORNOS QUE CHEGAM A 150.000 EUROS

Esta troça poderia fazer ranger muitos dentes na Grã-Bretanha, pois a Premier League, elite do futebol inglês, defronta-se com uma série de escândalos sem precedente. O campeonato mais rico do mundo, que vê evoluir as estrelas mais glamourosas da bola, esconde uma face menos charmosa, na qual as tentativas de corrupção, de desvio de jogadores de um clube para outro, e de operações financeiras ocultas seriam moedas correntes.
Alguns exemplos: ao menos três agentes de jogadores foram acusados de fazer propostas de suborno (às vezes chegando até 150.000 euros) para administradores de clubes na intenção de contratar tal ou tal atleta. “O método é conhecido: o valor do contrato é inflacionado com uma soma que é revertida em seguida sob a forma de comissões aos gerentes e agentes desonestos.”, explica John Holmes, 56 anos, que atua há 30 anos como procurador de atletas famosos, como Gary Lineker.

16 MILHÕES DE EUROS POR UM JOGADOR DE 16 ANOS

Este tipo de negócio começa a vir à tona e se mostra cada vez mais claro. “Os segredos sujos do futebol” ("Undercover: Football’s dirty secrets", BBC, 19/09/2006), documentário registrado com câmeras ocultas e recentemente exibido pela BBC, mostra alguma figuras conhecidas do futebol britânico entregando-se a práticas questionáveis. Frank Arnesen, diretor de equipes juvenis do Chelsea, foi flagrado enquanto tentava aproximar-se ilegalmente de um jovem prodígio já contratado pelo Middlesborough.
Sam Allardyce, gerente do Bolton (novo clube de Nicolas Anelka), é suspeito de receber comissões para facilitar três transferências. Se por um lado não trouxe nenhuma prova formal, por outro, este documentário mexeu com o futebol e com a federação inglesa, revelando que desde março de 2006 ela investigava 362 transferências de jogadores profissionais realizadas durante as duas últimas temporadas.
As investigações a cargo de Lorde Stevens, 63 anos, antigo chefe da Scotland Yard, hoje não se concentram em pouco mais de 39 movimentações suspeitas que poderiam implicar apenas oito clubes da Premier League. “Esta investigação corre o risco de levantar muita poeira”, prevê um especialista em futebol britânico, que prefere manter-se anônimo. “É evidente que todos os grandes clubes conhecem as brechas para burlar as regras.”
Um dos casos mais esclarecedores envolve John Obi Mikel. Em 2003, este pequeno gênio nigeriano de 16 anos foi descoberto por agentes do Manchester United. Após ter oficialmente vestido a camisa dos Reds, foi enviado para integrar o elenco do clube norueguês Lyn Oslo. Mas, em 2005, Mikel desapareceu. Depois, ressurgiu em Londres, rompendo seu contrato e declarando que sempre quis jogar no Chelsea. O Manchester United ameaçou levar o caso à Justiça. Para encerrar a polêmica, o Chelsea pagará 4 milhões de euros ao Lyn Oslo e 12 milhões ao Manchester. Hoje, Mikel detém a camisa 12 do Blues e é vizinho de vestiário de Didier Drogba e de Claude Makelele. Moral da história? Lá não tem isso.

POSSUIR UM CLUBE DE FUTEBOL É UM EXTRAORDINÁRIO CARTÃO DE VISITA”

Estes três últimos anos foram de investimentos maciços e, às vezes, obscuros, derrubando o que estava escrito nas regras do futebol inglês.
Quatro clubes da Premier League foram adquiridos por milionários americanos e russos. Os magnatas Malcolm Glazer e Andy Lerner, até então desconhecidos no mundo do futebol, ficaram com o controle, respectivamente, em 2005 e em 2006, do Manchester United (1,2 bilhão de euros) e do Aston Villa (95 milhões de euros). Última oferta pública de ações: o clube de Portsmouth repassado em Junho último a Alexandre Gaydamak, homem de negócios russo-israelense que é alvo de um mandado de prisão internacional por venda ilegal de armas para Angola.
Que procuram estes multimilionários investindo somas colossais no futebol?

Os grandes clubes são ao mesmo tempo mais do que entidades desportivas, sendo capazes de agregar elevado valor afetivo, empresas patrocinadoras e marcas mundialmente conhecidas”, assevera Jérôme Neveu, fundador da Scanclub (http://www.scanclub.fr/), uma empresa francesa de auditoria que estabeleceu uma classificação das equipes melhor gerenciadas. “Possuir um clube de futebol é um extraordinário cartão de visita para se abrir novos mercados. Em termos de notoriedade, o investimento é o mais rentável.”
Compreende-se melhor então a serenidade com a qual Roman Abramovich – proprietário do Chelsea desde 2003 – assimila um prejuízo recorde de 338 milhões de euros em duas temporadas.
Contudo, há mais mistério ainda. Que significam as recentes transferências de Carlos Tevez e Javier Mascherano, duas estrelas do futebol argentino, ao West Ham, venerável mas modesto clube londrino? Estes dois jogadores – cuja soma dos passes é estimada em 50 milhões de euros – pertencem à Media Sports Investments (MSI), uma sociedade offshore com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, e teriam sido “dados como presente” ao West Ham. Ao mesmo tempo, a MSI tenta negociar o clube.
À frente das negociações encontra-se Kia Joorabchian, homem de negócios inglês de origem iraniana, bem como o israelense Pini Zahevi, o rei das transferências da Premier League. Suspeita-se que estes dois homens sejam testas-de-ferro agindo por conta de Boris Berezovski, outro oligarca russo refugiado na Grã-Bretanha, hoje um inimigo declarado de Roman Abramovich, embora no passado tenha sido seu mentor.

A farra de dinheiro matou o amor ao futebol inglês”, lamenta o escritor John King, autor de “Football Factory”, crônica da vida diária de um grupo de proletários, fãs do Chelsea, embriagados de futebol, cerveja e castanhas.
King recorda-se de ter, ele próprio, em sua infância, vibrado em uníssono “The Shed”, canção da torcida do Chelsea, no setor popular do estádio, onde, por 5 libras (7,50 euros), uniam-se skinheads e bons pais de família.
Uma época distante. Hoje, o torcedor é considerado um consumidor. Com um simples clique na Internet pode se obter um cartão de crédito, uma assinatura de telefone móvel ou alguma roupa íntima com as cores de seu time favorito. O preço dos ingressos multiplicou-se por três em vinte anos. “Quem ainda pode se permitir levar seus filhos para torcer todos os domingos?”, pergunta-se Amy Lawrence, 35 anos, cronista esportivo do jornal The Observer e fã incondicional do Arsenal desde seus 5 anos de idade. “Vê-se as pessoas endividar-se em 1.000 libras (1.500 euros) no banco para pagar uma assinatura anual...” Mas faltam recursos e doravante uma legião de torcedores observa as grandes partidas no pub e reserva seus lugares no estádio apenas para equipes locais.

Na realidade os grande clubes afastaram a classe trabalhadora, os bebedores de cerveja e os devoradores de cachorro-quente”, prossegue John King. “O que querem é um público composto de famílias felizes, de turistas, de neófitos e de yuppies.”
Em seu escritório em Londres na Associação de Jogadores de Futebol Profissional (PFA), Bobby Barnes, diretor executivo, é mais moderado.

O futebol moderno é uma indústria, não se pode negá-lo. Mas, na Inglaterra, o clube permanece ligado à comunidade, onde as pessoas compartilham emoções”, declara este antigo jogador do West Ham.
No estádio, os torcedores vêm ver o espetáculo, e isto tem forçosamente seu preço.” Mesmo na terceira divisão. Para o Leyton Orient encontra-se lugares a 18 libras (27 euros).
A fim de apoiar financeiramente o clube, os fãs podem comprar, por 44,95 libras (68 euros), uma placa com seu nome gravado em letras douradas. Uma maneira de se entrar para a história de seu time. Ou de se promover gentilmente para o andar de cima.

(L'Express.fr, http://www.lexpress.fr/mag/sports/dossier/football/dossier.asp?ida=453492&p=2, 19/10/2006)

Tuesday, October 17, 2006

Magnusson aumenta oferta ao West Ham

Empresário islandês nomeou ex-diretor de comunicações da Uefa para cuidar de suas relações públicas

Funcionários e agências
Terça-feira, 17/10/2006
Guardian Unlimited

O empresário islandês Eggert Magnusson, imperturbável pelos contínuos esforços do clube sobre o lance, aumentou sua proposta para assumir o West Ham.

Magnusson, que é também chefe do Icelandic FA (Associação de Futebol da Islândia) e membro do comitê executivo da Uefa, dirige um consórcio que sinalizou primeiro seu interesse no clube, na semana passada. Salientando a seriedade da sua proposta, Magnusson agora nomeou Mike Lee, ex- diretor de comunicações da Uefa, da proposta Olímpica de Londres 2012, e sua firma Vero Communications para cuidar de suas relações públicas.

O barão do biscoito, encontrará os membros do West Ham no fim desta semana, para fazer sua última oferta, que está por volta de £75milhões de libras em dinheiro, mais um acordo de assumir as dívidas existentes do clube de £20milhões de libras. Se o West Ham, e especificamente o presidente Terry Brown, estão tentados pela oferta, seu próximo passo será dar permissão a Magnusson para consultar as contas do clube.

O empresário, aos 59 anos de idade, é o último numa longa linha de investidores estrangeiros que foi atraído pelos clubes ingleses, pela sedução do grande negócio de teledifusão, com renda média para os clubes de 67% pelas transmissões. Na próxima temporada, mesmo para o clube que acabar na lanterna do Campeonato, será garantido £25milhões de libras em dinheiro pela TV, durante esse ano - quase dobrando em média do volume de negócios para as equipes do Campeonato.

O empresário iraniano Kia Joorabchian, que orquestrou as transferências ao West Ham dos argentinos Carlos Tevez e Javier Mascherano, declarou que tinha interesse em assumir o clube mas, embora tenha se comprometido com executivos de investimentos do Rothschild para seu suporte financeiro na semana passada, sua proposta está até agora, longe de se concretizar.

(The Guardian, http://football.guardian.co.uk/News_Story/0,,1924451,00.html, 17/10/2006)

West Ham esquenta a oferta da Islândia

Por Gary Jacob e Sarah Butler

Eggert Magnusson está se preparando para aumentar sua oferta para o West Ham, esta semana. O empresário islandês fez reuniões ontem, em Londres e pode fazer uma proposta revisada, logo cedo amanhã, depois que sua primeira oferta de aproximadamente £60 milhões de libras foi rejeitada pelo clube da Barclays Premiership, há algumas semanas atrás. Terence Brown, presidente do West Ham, estima que o valor do clube esteja mais próximo de £80 milhões de libras.
Magnusson, presidente da Icelandic FA (Associação de Futebol da Islândia), está também querendo reestruturar uma nova oferta, porque o West Ham não estava satisfeito com a forma com que a primeira oferta foi financiada, a qual foi baseada na hipoteca do estádio. O clube está esperando encontrar Magnusson e Kia Joorabchian, que também está considerando assumir o controle do clube, esta semana, em uma tentativa de fechar um negócio e acabar a saga, que começou durante a temporada.
O West Ham adiou vários ultimatos que eles tinham estipulado para completar o negócio, o último começou no fim de semana passado. Magnusson e Joorabchian estão preocupados sobre o formato da equipe, porque o clube valeria consideravelmente menos se fossem rebaixados nesta estação. O time não ganhou desde o dia de abertura da da temporada e é o antepenúltimo na Barclays Premiership.
Magnusson está no comitê executivo da Uefa desde que 2002 e foi presidente do Valur Reykjavik, clube islandês. É diretor da Straumur-Burdaras, um banco de investimentos, e é do Conselho Deliberativo do Avion Group, um consórcio internacional de transporte que possui a Excel Airways. Magnusson pode pedir dinheiro a vários indivíduos bem sucedidos na Islândia, incluindo Gudmundsson de Bjorgolfur, que fizeram sua fortuna na indústria de cerveja.
Acredita-se que, Joorabchian, rival de Magnusson, tenha o dinheiro necessário prontamente disponível, mas está decidindo se fará uma oferta formal. O empresário iraniano preliminarmente ofereceu contratos para Brown e para Paul Aldridge, o diretor geral, permanecer no clube se ele assumisse.

The Times

(The Times, http://www.timesonline.co.uk/article/0,,297-2406952.html, 17/10/2006)