Sovietic News

Thursday, December 21, 2006

Abramovich defende o governo russo

Apesar da maior intervenção estatal, dono do Chelsea desdenha críticas ao Kremlin

por Guy Chazan
The Wall Street Journal

MOSCOU - Numa rara entrevista, o homem mais rico da Rússia, o magnata do futebol Roman Abramovich, apoiou a expansão do controle do Kremlin sobre o setor petrolífero do país e minimizou as crescentes críticas do Ocidente ao governo do presidente Vladimir Putin.

Abramovich - o bilionário que transformou o clube inglês Chelsea numa constelação de estrelas e, segundo rumores, seria um dos investidores do fundo MSI, parceiro do Corinthians — tem ligações antigas com o Kremlin e no ano passado vendeu a petrolífera OAO Sibneft à produtora estatal de gás natural OAO Gazprom. Ele desprezou as críticas ao crescente papel do Estado na economia russa e aos ataques de Putin à democracia.

Abramovich disse que não há nada intrinsecamente errado com o controle estatal da indústria de petróleo e gás. "É sempre uma questão de administração", afirmou. "O Estado pode contratar qualquer gestor, eu inclusive."

Ele também minimizou as preocupações de que a produção de sua antiga empresa, agora conhecida como Gazpromneft, tenha caído este ano. "Numa empresa privada, o que se quer é maximizar a produção dos poços (...) para oferecer o máximo de lucro para os acionistas", disse.

"O Estado pode adotar uma abordagem diferente e planejar mais a longo prazo o desenvolvimento dos campos de petróleo."

A recente carreira de Abramovich tem ressaltado as vantagens de, se manter boas relações com o Kremlin. No ano passado, a Gazprom comprou a Sibneft por US$13 bilhões, um negócio que catapultou Abramovich para a lista dos homens mais ricos do mundo, mas também diminuiu sua influência dentro da Rússia.

Abramovich, de 40 anos, fez parte de um pequeno grupo de empresários — conhecidos como oligarcas - que acumularam enormes fortunas nos anos 90 ao adquirir barato ativos estatais.

Acreditava-se que ele tinha enorme influência durante o governo do ex-presidente Boris Yeltsin, cuja filha, Tatyana Dyachenko, é uma de suas amigas próximas.

A influência de muitos dos oligarcas diminuiu com a eleição de Putin, que prometeu eliminá-los como ciasse. Boris Berezovsky, um ex-parceiro de negócios de Abramovich e, segundo rumores, o maior investidor do fundo MSI, desentendeu-se com o novo presidente depois de fundar um partido de oposição e fugiu para o exterior. O magnata Mikhail Khodorkovsky, um crítico politicamente ambicioso de Putin, foi mandado para a prisão por evasão fiscal e fraude enquanto sua petrolífera, a OAO Yukos, era desmantelada para pagar as alegadas dívidas tributárias.

Num encontro com quatro repórteres estrangeiros, sua primeira entrevista do tipo em mais de três anos, Abramovich disse que os empresários que haviam caído em desgraça no Kremlin haviam, tentado transformar sua riqueza em poder político. "Eu nunca procurei usar minha empresa para influenciar o governo", disse, quando perguntado por que ainda estava livre enquanto outros magnatas russos haviam fugido do país ou acabado na cadeia.

Abramovich foi perguntado se sentiu medo quando Khodorkovsky foi preso. "Há um ditado russo: você nunca está protegido da prisão e da pobreza", respondeu.

O bilionário se engajou na política, mas de um tipo que tem a aprovação de Putin. Ele colocou uma boa parte de sua fortuna pessoal em Chukotka, uma remota região ártica que faz fronteira com o Alasca e que ele administrou como governador nos últimos seis anos.

Nos últimos anos, Abramovich tem passado mais tempo em Londres, onde comprou o Chelsea Football Club em 2003.

Ele está tentando agora sair discretamente de Chukotka. Ele submeteu sua renúncia do governo a Putin ontem, quatro anos antes do fim de seu segundo mandato. O Kremlin ainda não decidiu se aceita a renúncia.

(O Estado de S. Paulo, WSJ.com/Brasil, 21/12/2006, p. B-12)